ROBÉRIO BRAGA – Livro no forno

Robério Braga

Depois de concluir “O Trabalhismo no Amazonas antes do PTB: contribuição a história política” e em meio a outras pesquisas, tenho em preparo e vem sendo cosido em fogo brando, como diziam os antigos, um livro cujo título provisório é “Guia do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas” que pretendo oferecer como registro do meu Jubileu de Ouro na instituição, visto que ali ingressei em 1973, com 21 anos de idade e acadêmico da Faculdade de Direito do Amazonas, mas desde há muito era apaixonado pela História do Amazonas cujo estudo foi estimulado por meus pais, irmãos e professores. 

Contar a história dessa instituição mais do que centenária, com detalhes e sem subterfúgios, muitos deles desconhecidos de seus próprios sócios, muito bem embasado em antigas e longas pesquisas acrescidas com a descrição do que vi, vivi e acompanhei de perto por pouco mais de meio século, dá a sensação de estar produzindo uma parte do que poderia ser a autobiografia que meu prezadíssimo amigo Newton Sabbá Guimarães – doutor por todos os méritos e títulos – tanto me instiga a escrever.

Redescobrir os primórdios e um pouco tempo antes do sonho ser sonhado por Vivaldo Palma Lima, atravessar a primeira vintena de anos, invadir o cinquentenário e deparar-me com o sofrido período de quase desativação de suas funções e abandono do prédio e acervos então sustentados quase que unicamente pela força hercúlea de Mário Ypiranga Monteiro na solidão da luta, assim como descrever a regeneração da entidade nos idos de 1962, a pujança que se seguiu, o centenário e a prosperidade que vive e se anuncia ainda maior para os próximos anos, é experimentar a sensação de estar contando um pouco da história da minha terra centrada no Silogeu que representa a Casa da Memória de tantas e significativas realizações.

Ao mesmo tempo não deixar passar em brancas nuvens as tormentas que abalaram seus alicerces logo no terceiro ano de funcionamento, quase que imediatamente recompostos pelo fato de que o ideal que unia seus fundadores parece ter sido muito mais forte do que os desentendimentos provocados pelas vaidades em choque, e nada omitir sem permitir que haja desconstrução da imagem dos envolvidos, não tem sido missão fácil nem indolor.

Recompor a trajetória de 1917 ao tempo atual, contendo a emoção diante de infortunados momentos e passagens que, mesmo assim, não podem ser omitidas em nome da verdade histórica, impõe entendermos que não se trata de uma confraria composta exclusivamente de homens – como no começo – e de homens e mulheres desde tempos mais recentes -, sem defeitos e com alma pura e santa. Por isso o relato dos entrechoques surge aqui e ali, alguns dos quais presenciei, outros ouvi dizer, alguns soube por fontes que reputo sérias, tantos que ajudei a reduzir a cinzas o mal-estar, e, sinceramente, raros que protagonizei ou fui envolvido, ainda que sem o propósito de dar-lhes corpo.

No “Guia” o leitor vai encontrar as primeiras doações para a biblioteca e museus, o rol de visitantes ilustres inaugurado pelo escritor Rocha Pombo e ornado pelo presidente Washington Luiz, membros da Família Imperial Brasileira e inúmeros escritores de realce, as inúmeras conferências em seu salão nobre, o papel de personalidades na criação e consolidação do Instituto, assim como as contribuições que levaram à ampliação da sede, multiplicação de acervos e ao desempenho do papel de órgão consultivo do Governo a que foi erigido em 1917 pelo governador Pedro Bacellar e como essa função foi desempenhada a contento em inúmeras ocasiões, inclusive em relação a fatos recentes.   

Espero que em breve esteja ao alcance dos leitores. Por enquanto encontra-se no forno e em fogo brando.

*O autor é advogado, membro da Academia Amazonense de Letras; foi secretário de Cultura do Amazonas por mais de 20 anos

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