ROBÉRIO BRAGA – Saudosismo

 

Robério Braga

 

Vez por outra recebo no moderno meio de comunicação que é o “ZAP”, notícias e filmes relativos à Manaus antiga, muitos deles referentes ao começo e aos primeiros anos do século passado. Noto, por isso, um certo saudosismo de parte de bons amigos e de pesquisadores de relíquias manauenses, cada vez mais interessados em redescobrir o período da “belle époque amazonense”, como se tudo tivesse sido dourado e as mil maravilhas. E vem sempre em tom de lamentação pela perda da qualidade de vida, da organização urbana e até da boêmia que se foi.

É compreensível que assim seja, mas, ao mesmo tempo, parece que essa paixão pelos tempos idos, não está permitindo nos darmos conta da precária situação urbana em que se encontra a cidade, por inúmeras razões que vêm de longe, talvez causada em parte pela explosão populacional sofrida, talvez pelo rompimento de nossas identidades e em razão de novos hábitos que se formaram. Seja por estas, outras ou inúmeras razões, isso é fato e sobre ele não há que procurarmos um responsável, posto que todos respondemos, de uma forma ou de outra, por essa situação.

Tenho cá as minhas saudades de um período no qual, não faz muito, a paisagem urbana era harmoniosa, a vida mais calma, o trânsito de veículos tranquilo, a temperatura mais amena, a escola mais eficiente, a convivência mais fraterna, as famílias mais felizes. Se volvermos a fases mais recentes, dos anos 1950-1970, por exemplo, será possível constatar muitas diferenças com o ritmo e as condições de vida que experimentamos na atualidade, e disso pouco ouço falar.

Mais do que procurar recuperar essa memória mais antiga ou reacender a mais recente – o que tem muito valor e especial sentido para que não se efetive o indesejado apagamento da memória de que tratam os estudiosos mais modernos ao estudarem os valores culturais das sociedades contemporâneas -, mais do que isso, é necessário não perder de vista as nossas responsabilidades com o presente e com a cidade que vamos legar aos que nos sucederem.

Nesse sentido, é o que a carta constitucional define quando trata da proteção do meio ambiente cujas condições adequadas devemos preservar para a presente e as futuras gerações, porém, além disso, há de haver a consciência de responsabilidade de cada um de nós para com a terra de nosso nascimento ou de nossa escolha, contribuindo para que ela não se transforme em território de pandemônio, terra sem lei, destino indesejado, deserto de esperança.

Estamos na hora certa de manifestar essa preocupação, pois as eleições de nossos líderes locais – prefeito e vereadores – está batendo a nossa porta, e serão eles que, por nossa representação autorizada pelo voto, vão operar meios e modos, leis e regulamentos, processos e ações administrativas, técnicas e financeiras para a gestão e solução dos problemas de Manaus.

Ao avaliarmos os candidatos que se nos apresentam em disputa por tais cargos públicos, devemos ter em mente vários fatores, muitos deles amplamente repisados a cada eleição, mas, também, segundo penso, é fundamental verificarmos com atenção o que propõem para a solução de problemas antigos e que se agravam a cada ano, e como vão cuidar de nossa cidade, pois, quando bater o novo saudosismo precisamos ter coisas boas a recordar.

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