ROBÉRIO BRAGA – Um Nery diferente

 

Robério Braga

 

Fugindo à tradição da elegância e soberba que eram espelhadas na figura de Silvério José Nery, o senador e governador, figura tão combatida na política amazonense, Abílio Damaso Nery, seu irmão de sangue, se dedicou a boas causas no Amazonas e construiu família apartado da riqueza e da ostentação.

Nascido em Manaus, em 11 de dezembro de 1876, faleceu em 10 de janeiro de 1963. Filho do major Silvério José Nery e Maria Antony Nery, eram seus irmãos Silvério José, Antônio Constantino, Márcio Filipiano, Luiz, Rosa Benedita e Atílio Cândido, aos quais se somavam os irmãos do primeiro matrimônio de seu pai: Frederico José de Sant´Anna Nery e Ana de Sant´Anna Nery.

Estudou no Rio Grande do Sul e na Escola Militar da Praia Vermelha, ingressando depois na Escola Politécnica de Salvador, da Bahia, na qual se formou em 1904 como engenheiro-geógrafo e como engenheiro civil em 1905, quando teve oportunidade de ser colega de Octávio Mangabeira, que se tornaria figura de projeção nacional.

Concluídos os estudos, retornou a Manaus e exerceu sua atividade na demarcação de áreas de terra no interior do Estado, até mesmo após o casamento com Deolinda Nogueira Pinto, em 19 de novembro de 1906. Seus filhos foram Silvério, Corintha, Abilinda, Débora, Pery, Paulo e Guilherme.

Em segundas núpcias, casou-se com Joana Andrade Nery, tendo um filho: Mário Fernando.

Residiu, por muitos anos, na Rua do Dr. Moreira no centro antigo da capital amazonense, região em que residia grande número de famílias de professores, advogados, médicos e engenheiros.

A força da política o atraiu para dirigir as prefeituras de Manacapuru, Tefé, Coari, Barreirinha e Borba, sem que em tais encargos tenha deixado rastros de que pudesse se envergonhar, ao contrário, contribuindo para o desenvolvimento de tais municípios.

Suas qualidades de engenheiro foram postas a provas na edificação de vários imóveis na cidade, porém, o mais desafiador foi a retomada e conclusão das obras do prédio do atual Instituto de Educação do Amazonas, na Praça “Antônio Bittencourt”, recuperando os escombros em que havia sido colocado o edifício destinado a Palácio do Governo, cujas obras projetadas e iniciadas por Eduardo Gonçalves Ribeiro, foram entregues ao seu sucessor em condições de receber a cobertura e iniciar a conclusão a com a decoração exuberante que havia sido projetada, ao modo do Teatro Amazonas.

O que dele diziam os contemporâneos é que se tratava de homem simples e trabalhador, e que, deslocado para missões no interior, por bom tempo deixou a família residindo no porão do palacete de Silvério, por cujas brechas e pequenas portilhas, seu filho Paulo Pinto Nery algumas vezes avistou o tio todo-poderoso de quem não costumavam se aproximar, conforme me revelou esse grande amigo, em conversa de família.

Foram a retidão e o caráter os maiores exemplos que legou aos filhos, e todos souberam honrar seu nome e transmitir suas lições. Foi um Nery diferente.

*O autor é advogado e membro da Academia Amazonense de Letras

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