AUGUSTO BERNARDO CECÍLIO – Poesia como ferramenta de expressão entre crianças e adolescentes
Em um mundo cada vez mais dominado por algoritmos, produtividade e comunicação instantânea, a poesia pode parecer um luxo ou até mesmo uma excentricidade. No entanto, é justamente nesse contexto que ela se revela essencial: como espaço de pausa, reflexão e expressão subjetiva. A proposta da “Ação Cultural Jovem Poeta”, apresentada pelo vereador Professor Samuel, vai além de um concurso literário; é uma iniciativa que reconhece a poesia como instrumento de formação integral de crianças e adolescentes.
Estudos recentes reforçam essa visão. Uma pesquisa realizada na cidade de Novo Hamburgo (RS) demonstrou que a leitura e a produção de poemas nas escolas não apenas enriquecem o repertório cultural dos alunos, mas também desenvolvem habilidades analíticas fundamentais, promovendo uma educação mais crítica e sensível.
A poesia, com sua musicalidade e ritmo, também desempenha um papel crucial no desenvolvimento da linguagem e da empatia. Segundo especialistas, a leitura de poemas desde a infância estimula a imaginação, amplia o vocabulário e fortalece a capacidade de compreensão e expressão dos jovens.
Além disso, a interação com textos poéticos pode ser uma poderosa ferramenta pedagógica. Um estudo publicado na revista Educação destaca que a poesia, quando integrada ao currículo escolar, promove habilidades interpretativas, reflexivas e criativas, contribuindo para uma formação mais sensível e crítica dos estudantes.
A justificativa do projeto de lei cita um estudo da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, que comprova que o cérebro humano responde com maior intensidade à linguagem poética do que à prosa comum. Quando expostos a versos de autores como Shakespeare ou T.S. Eliot, os participantes da pesquisa apresentaram maior atividade cerebral, um indicativo claro de que a poesia ativa áreas cognitivas complexas relacionadas à emoção e à memória. Isso mostra que ler e produzir poesia não é apenas um exercício estético, mas também intelectual.
Ainda ressalto, o papel da poesia na construção de valores humanos e emocionais. Ao seguir caminhos da sensibilidade, da metáfora e da imaginação, o jovem é estimulado a elaborar sua visão de mundo com mais profundidade. A poesia, nesse sentido, é um antídoto contra o empobrecimento da linguagem e da subjetividade, tão presentes nas dinâmicas contemporâneas marcadas por discursos rasos e impessoais.
Por fim, o projeto toca em um ponto essencial: a democratização do acesso à cultura. A promoção de iniciativas como a Ação Cultural Jovem Poeta deve ser entendida como parte de um esforço maior para garantir que crianças e adolescentes tenham acesso a experiências significativas, que moldem não apenas seu desempenho escolar, mas sua humanidade. Como dizia Mário Quintana, citado no projeto: “A poesia é essencial à vida. O acesso a ela é um direito de toda criança e todo jovem.” Que esse direito seja lembrado não como um luxo, mas como um alicerce.
*O autor é Auditor fiscal e professor