ROBÉRIO BRAGA – Hotel Excelsior

Muito se fala no Hotel Cassina, da Praça Dom Pedro II com Rua do Governador Joaquim Victório da Costa, como referência exponencial de luxo e riqueza na Manaus do período da alta da borracha, reconhecido como ponto de encontro de jornalistas, boêmios e seringalistas, no qual, conforme já contei nesse cantinho de escriba, Plácido de Castro sofreu um atentado a bala, o presidente Afonso Penna ofereceu banquete aos jornalistas quando da visita presidencial, cujo prédio terminou como “Cabaré Chinelo” e foi salvo por desapropriação que consegui efetivar ao tempo de secretário da Cultura no governo Amazonino Mendes.

Mas tivemos outros hotéis que, apesar das críticas de alguns dos visitantes, para a nossa população eram considerados de alto nível, dentre os quais em breve tempo se destacou o Hotel Excelsior, de bom porte e bem-apresentado na Rua Municipal, atual Avenida Sete de Setembro, instalado em palacete clássico para os anos 1920.

Apresentado na imprensa como moderno e magnífico, em estilo europeu, situado na parte mais salubre da cidade, próximo dos principais centros de diversão e com transporte à porta. Conforme sua propaganda, oferecia restaurante, aposentos ventilados e higiênicos com amplas janelas, restaurante ao ar livre e gabinetes reservados, jardim e terraço para recreio, e estava apto a receber pensionistas e famílias de fino trato, além de viajantes.

Ao que pude verificar, teve vida efêmera, pois foi levado à venda pouco tempo após ser reformado, por transferência de seus proprietários para o Sul do País, fato bastante comum nos anos após o 1913, marco da forte decadência da nossa economia.

Como era comum nestes casos, seu mobiliário foi colocado em leilão por pregoeiro credenciado e com anúncio comercial intensamente divulgado na imprensa diária da capital amazonense. Este anúncio permite-nos conhecer o tipo de mobiliário da época como móveis em peroba, canela e cedro, piano-planola, automático, alemão, 50 peças, Huppelot, cristais, centros de mesa, cofre português, louças de porcelana, jarrões em eletroplate, reposteiros em pelúcia, cortinados para cama, ventiladores de teto e de mesa, lustre de cristal, vinhos Bordeaux, toalhas, roupas completas de cama.

Outro hotel da mesma época, mas que avançou um pouco mais no tempo foi o Palace Hotel, de J. A Ramos & Cia., na Avenida Eduardo Ribeiro, n. 35-37, esquina da Rua Saldanha Marinho, dirigido por Jacob Sabbá, em 1917, com pessoal habilitado para fornecer carnes frias de toda a espécie, servindo banquetes, atendendo para casamentos e batizados, com asseio e bom preço, além de oferecer sorvetes de leite e de abacaxi, sempre feitos com frutas frescas. Além disso, entregava tudo em domicílio, inclusive lanches.

De muito sucesso era o clássico concerto musical apresentado todas as noites no curso do jantar, não só quando da realização de banquetes que eram comuns, especialmente reunindo os cônsules dos diversos países acreditados no Brasil e sediados em Manaus.

Ao que parece, tanto o Hotel Excelsior quanto o Palace Hotel, não ofereciam facilidades para os boêmios, jornalistas e seringalistas frequentarem com as “marafonas”, como o julgo chamada muitas das “polacas” que eram frequentadoras oficiais de outros hotéis da cidade, mas sempre com muita elegância e bom trato como diziam algumas notas esparsas em jornais.

*O autor é advogado e membro da Academia Amazonense de Letras 

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