ROBÉRIO BRAGA – Arengas do Thaumaturgo

 

Gregório Thaumaturgo de Azevedo foi governador do Amazonas (1891-1892), após ser afastado do governo do Piauí, sua terra de nascimento, logo ao alvorecer da República, designado pelo marechal Deodoro da Fonseca por influência do Barão de Lucena, em detrimento do então governador Eduardo Gonçalves Ribeiro (1891).

Havia árdua disputa entre grupos de militares pelos governos dos recém-criados estados federados e, no Amazonas, esta situação foi agravada pela força de oligarquias, notadamente a dos irmãos Emílio e Guilherme Moreira, a qual defendeu a designação de Thaumaturgo após desentendimentos com Ribeiro, medida intermediada, no Rio de Janeiro, por Joaquim Sarmento, mais um da grei “Moreira”. Mas este namoro, que resultou da traição a Eduardo Ribeiro, não durou muito tempo e logo depois os “Moreira” retornaram ao colo de Ribeiro.

Bem a seu modo, e a força, constatando que o vice-governador Guilherme José Moreira passara da conta e da medida em breve interinidade no cargo até sua chegada ao porto de Manaus, Thaumaturgo cuidou de impor a sua forma de governar, demonstrando ser avesso aos grupos locais que vinham dominando o Estado, praticamente desde os anos finais do Império.

De uma assentada, Thaumaturgo nomeou representantes da oposição para todas as Intendências (câmaras municipais) do interior e levou de roldão os vereadores que estava instalado na capital. A resposta de Guilherme Moreira que depois se tornou visível, do conhecimento de Thaumaturgo e da imprensa, foi um telegrama enviado ao Barão de Lucena, se queixando: “Presidente Thaumaturgo está fazendo reação partido o elegeu, sua mensagem Congresso provocação brios povo amazonense”. Fez isso, entretanto, sem confessar os verdadeiros motivos de sua irresignação.

Como se não bastasse ter subtraído o poder político dos irmãos “Moreira”, Thaumaturgo passou a receber apoio de deputados estaduais de outra oligarquia que se formava com Silvério Nery, Lopes da Cruz, João Afonso do Nascimento, J.A. Soares Dutra, Raymundo da Rocha Filgueiras e Piá de Andrade, três deles militares.

Mesmo ampliando os atritos políticos, mas procurando dar ordem na casa como se costuma dizer em casos que tais, Thaumaturgo colocou o dedo nas feridas de nomeações de juízes e desembargadores, alguns dos quais exerciam os cargos de forma irregular, pois mantinham função na magistratura e no Congresso estadual. Por isso, concedeu prazo para que Armínio Pontes de Souza, Villar Coutinho, Agapito Pereira e Dr. Campos apresentassem opção pelo cargo, sustando de logo o exercício concomitante das duas funções. Villar Coutinho, Agapito e Campos optaram pela magistratura, mas Armínio Pontes não aceitou a solução adotada pelo governador.

Além disso, atuando de forma frontal contra interesses antigos de proprietários rurais e de grupos políticos e negociantes com o Estado, Thaumaturgo foi revisando contratos de obras e serviços, concessões e regularização de terras de tal modo que seguiu ferindo interesses ditos poderosos. O seu fim foi a deposição do cargo em razão de movimento civil-militar manauense, o que se somou ao apoio que concedeu a Deodoro no episódio do fechamento do Congresso Nacional.

A renúncia de Deodoro e as resistências locais a muitos dos seus atos de governo e atitudes político-partidárias, arrastaram Thaumaturgo para fora do palácio estadual praticamente debaixo de bala e em fuga, sem que ele tenha conseguido eleger-se governador novamente, apesar das várias tentativas que fez, todas frustradas.

As arengas que ele arranjou foram decisivas para suas derrotas.

*O autor é advogado, membro da Academia Amazonense de Letras

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