ROBÉRIO BRAGA – Manaus: patrimônio em metal

No correr do 356.º ano da presença europeia em Manaus, contados do início da construção do Forte de São José da Barra do Rio Negro confirmada por historiadores de larga tradição, recordo uma particularidade da decoração urbana que precisa ser ressaltada e da qual pouco se cuida. Para tanto, conto com a pesquisa de Judeth Costa, figura central no restauro de obras de arte, desde a criação do ateliê em 1997, quando tive o privilégio de ser secretário de Cultura.
O patrimônio artístico em metal que em praças e prédios é primoroso, embora empobrecido pela perda de peças singulares que só se conhece em relatórios ou em raras fotos. O que nos sobrou para contemplação nesta data especial, entretanto, é digno de nota e destaque.
Na Alfândega, as esculturas de Mercúrio e uma figura feminina sobre mastros da escada; uma escada helicoidal na Guardamoria; uma escada na entrada principal com doze mastros. Na Biblioteca Pública, a escada vinda da Escócia, de Walter MacFarlane, de 1906, com desenhos em linhas sinuosas e folhagens, como rendilhado; a claraboia, da mesma fábrica e data; as 12 colunas em cada sala, em estilo compósito e fuste em caneluras, sobre as quais já escrevi, pois, compradas em quantidade, muitas foram sustentar parte do Parque Amazonense.
No Palácio Rio Negro, as esculturas de “Índio” e “Índia”, francesas, de Val d´Osne, com luminária nas mãos; a Medusa, bronze, mais recente, separando dois pés de pau-brasil; os portões nobres do começo dos 1900, e proteções das varandas e o guarda corpo. São belos os gradis do cemitério de São João Baptista, vindos da Escócia, de Walter Macfarlane, em 1905; simbólicos, a abóboda de berço, com escamas de ferro e vidro com seis colunas e os portões, com figuras em rosetas. No Ginásio Amazonense os gradis com desenhos em folhas e círculos formando arabescos, os quais cercavam a Praça Dom Pedro II, originalmente.
Os mais expressivos e sofisticados, são o Monumento a Abertura dos Portos e o de Tenreiro Aranha. O dos Portos, no Largo, vindo da Itália, de De Angelis e escultura de Enrico Quattrinie, fundição de Bastianeli, em bronze e lítico, de 1900. O de Tenreiro Aranha, na Saudade, vindo da Itália, de 1907, atribuído a Silvio Centovanti e Rafaeli Marchesi, tendo Quattrini como escultor e fundição de Crescenzi.
No parque Jefferson Péres, recompusemos o chafariz de Glasgow, de 1913, que esteve no Largo da Matriz, depois despedaçado, tem 12 partes, 4 grifos, base e bacia, com figura feminina elevada. Aqui também o justo e belo monumento a Jefferson, recente e imponente. Na Matriz, o conjunto escocês da Praça XV de Novembro se harmoniza com a praça Dom Pedro II e seu Chafariz das Musas, também escocês. Na Praça Heliodoro Balbi, muitas peças rodeiam o coreto francês em ferro fundido, bronze e vidro; inúmeras esculturas como o Mercúrio, Ninfa, Diana a Caçadora, javali em luta com o cão, chafariz, bustos de Bruno de Menezes, Dom Pedro I e Ferreira de Castro que compõem a praça do “cuscuz” feito com colunas do Teatro Amazonas.
Solene é a ponte Benjamin Constant, inglesa, de 1896, da firma de Dorman Long; clássica é a ponte da Cachoeira Grande e mais do que solenes são as peças do Teatro Amazonas. Como Índia, Thalia, Euterpe, Callioipe, Melpomene e os gradis das escadarias, portões e estrutura de cúpula belga, guarda corpo e escadas francesas, bancos ingleses, colunas internas escocesas.
Que tal aproveitarmos esse período e revisitarmos estes lugares?
- *O autor é advogado, membro da Academia Amazonense de Letras
