ROBÉRIO BRAGA – Palácios e palacetes de Manaus

 

Robério Braga

Ainda no curso dos festejos dos 356 anos da presença do homem europeu nessa região com o surgimento do forte de São José da Barra do Rio Negro, convencionalmente fixada em 24 de outubro de 1669, a qual se consagrou como cidade de Manaus, entendi ser interessante registrar a existência de palácios e palacetes que adornavam a cidade arborizada, bucólica e pacífica (se comparada com a situação atual) dos anos áureos da borracha, muitos dos quais nos chegaram aos 1970 e outros resistem formando uma paisagem de riqueza antiga.

Os ditos palácios que eram sede de órgãos públicos nos tempos da capitania e comarca, na verdade eram taperas ou casarios melhorados e desapareceram sem deixar vestígios. Dos que foram erguidos muitos anos depois com o nascimento da República, muitos permanecem, ainda que exigindo cuidados de conservação permanente.

Vamos passar em revista aos que nos vêm à memória, de supetão, ao correr da pena como diziam os antigos jornalistas, seja em relação aos prédios oficiais, seja em referência aos que, construídos e usados como casa de residência, tinham porte mais expressivo do que os sobrados das principais ruas e avenidas do atual Centro Histórico.

Os mais imponentes foram edificados ou planejados por Eduardo Ribeiro (1892-1896), e comporiam um complexo de poder e arte, na mesma via que era chamada de “Avenida do Palácio” e depois recebeu o nome do ilustre maranhense e nosso governador. Eram o Palácio do Governo, no alto da avenida que se transformou no Instituto de Educação do Amazonas e seria o mais belo e suntuoso de todos; o do Poder Legislativo, a ser construído à direita do Largo, atual Praça “Antônio Bittencourt” (do Congresso), cuja obra não foi iniciada; o da Justiça, mais abaixo, inaugurado sem a presença de seu idealizador-construtor em julho de 1900; e o das Artes, que é o Teatro Amazonas, símbolo maior do seu trabalho e orgulho de todos os brasileiros-amazônidas. Como se vê, as artes foram elevadas ao patamar dos poderes mais importantes.

Os palacetes, em sua maioria, estavam em derredor desse polo central da cidade. O Palacete Jorge de Moraes, na Rua Ruy Barbosa, que ainda cheguei a ver íntegro com sua elegância clássica, e cuja sala de jantar visitei depois da deformação de sua fachada para contemplar, com Jefferson Péres, os azulejos pintados à mão vindos da Europa; o Palacete das Lágrimas, na Avenida de Joaquim Nabuco, demolido pela sanha avassaladora dos “modernizadores” de muitos outros prédios, e que mereceu belíssimo artigo de Mário Ypiranga condenando o crime e  recuperando a beleza de sua expressão; o Palacete Alcides Bahia, no qual se reuniam os beletristas e jornalistas mais credenciados; o Palacete Rezende, em que se hospedou a Família Imperial em 1927 e foi decorado por artistas da trupe de De Angelis, que ornou o Teatro; o Palacete Scholz, que Waldemar Scholz edificou com recursos do seu patrão, o verdadeiro barão da borracha, o qual se transformou em Palácio Rio Negro quando comprado pelo governador Pedro Bacellar para residência oficial e sede do poder e hoje é centro cultural desde 1997.

Muitos casarões tinham estilo, mobiliário sofisticado, toda a sorte de adornos e afrescos e eram motivo de orgulho para a pequena Manaus então chamada de “cidade sorriso”, “terra dos barés”, “cidade morena”, “minha cidade querida” como assinalou Áureo Nonato na canção que se perdeu no tempo.

*O autor advogado membro da Academia Amazonense de Letras

 

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