ROBÉRIO BRAGA – O grande acampamento

 

Robério Braga

Deixei assentar o impacto pelo encantamento de um amigo, afilhado de casamento e pessoa de boa conversa e alegria ímpar, para conseguir ofertar-lhe o necrológio devido pela sua grandeza de alma e de artista.

No grande acampamento em que ele se encontra agora, como se estão antigos escoteiros de todas as partes do mundo, ao lado de Achiles Barroso, Carmine Arone, José Lindoso, Gonzaga Pinheiro, Edmilson Rosas e outros escotistas de sua época, há de receber a mensagem que transmito com o meu “Sempre Alerta”, aquele que nos reuniu no começo dos anos 1960 no Grupo Escoteiro do Sindicato dos Comerciários, na Rua de Luiz Antony, e fomos aprendendo a disciplina e as regras de Baden Powell e nos preparamos para a vida. Ele conseguiu, por méritos, alçar à honrosa posição de “Escoteiro da Pátria”, o mais elevado reconhecimento que se poderia ter; e eu, a iniciar-me naquela ocasião na carreira que me levou a Comissário Nacional de Relações Institucionais da União dos Escoteiros do Brasil, anos mais tarde.

Roberto Kahane era uma figura especial de ser humano, inteligente, sagaz, discreto, educado, apaixonado por cinema e pelas artes todas, enveredou por esse caminho e alcançou sucesso sem perder de vista os acervos do pai, Salim Kahane, dentista e cinéfilo, e, depois, os materiais do festejado Silvino Santos reunidos em poder de sua querida Norma Araújo, herdeira de J. G. Araújo, artista de qualidades incomuns e filha de Renato, o gênio que transformava madeira em obra de arte e vivia com elegância.

A produção de Roberto para o cinema é variada, rica, bem constituída e inclui os trabalhos: “Plástica e movimento” feito com Felipe Lindoso, Raimundo Feitosa e Aldisio Filgueiras; “Um Pintor Amazonense”; “Igual a Mim… Igual a Ti”; estes dois realizados com Felipe Lindoso; depois, vieram “A Coisa Mais Bela que Existe ou a trajetória de um seringueiro”; “Manaus”; “O Começo do Começo”, com Márcio Souza; “Como cansa ser romano nos trópicos”, obra inacabada. Como roteirista, merece referência “Noite sem Homem”, com Ítalo Rossi e Otávio Augusto. Anos depois, enveredou pela televisão e o sucesso não foi menor, mas sem deixar de lado o belo documentário “Teatro Amazonas”, que fiz reeditar e ampliar quando secretário de Cultura, atendendo a uma provocação de Roberto, enfática, porém fraterna, como só ele sabia fazer.

Mas não bastava, era preciso fazer justiça ao passado que conhecera desde menino pequeno e em 2023 finalizou a obra “Roberto Kahane e a Câmera do Dr. Salim”, obra póstuma do exímio diretor Jean Robert Cézar, que retrata o cineasta Roberto Kahane, seu pai Dr. Salim Kahane e a importância de seu acervo cinematográfico.

Em outro campo de trabalho ele atuou na crítica jornalística no jornal “A Crítica” e na revista “Cinéfilo”, esta que era feita e dirigida por José Gaspar, outra figura muito especial para a cidade e para o mundo do cinema entre os amazonenses.

Guardo na memória belas conversas que travamos, e a mais emocionante e curiosa quando do telefonema com o qual, ele e Norma convidavam, minha amada Rosa e a mim para padrinhos da confirmação do amor que os reunia. Foi emocionante vê-los assumindo o compromisso que abraçaram com a certeza da maturidade, mas como adolescentes apaixonados.

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