domingo, dezembro 7, 2025

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ROBÉRIO BRAGA – Um caso de traição

 

Robério Braga

O que revelo neste artigo, amplificando notícias de jornais da época e apontamentos de várias pesquisas que andei realizando, não é novidade para os que se metem a revolver documentos antigos como se fossem arqueólogos penetrando nos escaninhos mais íntimos da história política do Amazonas. Ao mesmo tempo, serve de relembrança do passado que, ao que dizem nas novas esquinas da cidade que são os cafés dos shoppings, bem diferentes das “terrasses” do período dourado da borracha, tende sempre a se repetir conforme falam algumas pessoas interessadas nestes assuntos.

Eduardo Ribeiro, o engenheiro militar maranhense que pode ter sido o mais traído de todos os políticos que ocuparam altos cargos em nossa terra, conta em detalhes que Manoel Machado (barão de Solimões), Joaquim Sarmento, Costa Azevedo, Fileto Pires Ferreira, Lima Bacury, Gabriel Salgado dos Santos e Antônio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto, quando parlamentares federais e na imprensa ao tempo de seu governo, o aplaudiam em tudo que fazia, afirmando com clareza que “nunca houve uma só voz que articulasse uma palavra contra ato meu algum”.

Mas, esse cenário seria modificado com a organização do Partido Republicano Federal, em Manaus, em fevereiro de 1895, esclarecendo que desde então tudo começou a mudar, ou mudou de uma só vez, da água para o vinho no comportamento de vários “amigos”, inclusive alguns destes que lhe pareciam fiéis até a morte.

Manoel Machado, Costa Azevedo, Fileto Pires e Gabriel Salgado ficaram firmes com Ribeiro, afinal, ainda havia tempo de governo pela frente, sua liderança era inconteste, aproximavam-se eleições gerais e a própria sucessão do governo, tudo isso funcionando como freio contra as debandadas precipitadas. Nada diferente do que ainda acontece no cenário político brasileiro, diga-se de passagem.

O rompimento se ampliaria quando Manoel Machado perdeu a vaga de candidato a governador na sucessão de Ribeiro, como era de seu desejo ardente, mesmo tendo vindo do período político imperial no qual foi elevado a barão e presidente da província amazonense ao apagar das luzes do reinado, ainda que tivesse méritos pessoais para tanto.

Ao que se colhe dos registros históricos conhecidos, Machado perdeu espaço para sua indicação à eleição de governador pelo partido da situação com apoio de Ribeiro, por desavenças com o vice-presidente da República, Floriano Peixoto, situação que fez transbordar mágoas, insatisfações, desencantos, traições contra o governador e, desde então, outras baterias com novos inimigos – de antigos amigos – se voltaram contra Ribeiro.

Como se não bastasse, Gabriel Salgado dos Santos, ao qual Ribeiro chamava de “moço enfezado, insolente e malcriado”, também quis ser candidato a governador procurando o apoio de Ribeiro, mas “o partido não concordou” (sempre o partido levando a culpa das decisões dos caciques e servindo de costa larga para tudo que seja defenestração política) e, por isso, novas ofensas foram desancadas contra Eduardo Ribeiro, em tom crescente e agudo, valendo falar tudo que desse na telha, como virou costume dizer-se em tempos mais recentes.

Como ninguém é de ferro, muito menos nenhum político com poder de mando, ao que parece Ribeiro articulou uma resposta incisiva e equivalente em petardos ao que que recebera como ataque, igualmente forte, mas o fez por meio de terceiros: estimulou a divulgação de correspondência de Raymundo Nunes Salgado, enviada a Gabriel, seu irmão, recheada de fatos pitorescos, de intimidades graciosas e desonrosas, do tipo “ingrato, mal irmão, egoísta, amigo falso e traiçoeiro”, expressões ampliadas para aplicação de um dito popular bem conhecido ao assinalar que Gabriel Salgado era “cesteiro velho…”. Prometia fidelidade e apalavrava apoio, mas não costumava cumprir. Pagou com ostracismo, enquanto Ribeiro fez história de verdade.

Creio que o leitor sabe que a política parece continuar a mesma, recheada de oportunismo, promessas de fidelidade e traições, mas não custa nada lembrar e dar exemplos concretos.

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