ROBÉRIO BRAGA – Pensador amazônico
Há poucos dias, por iniciativa de Selma Bonfim e Sócrates Bonfim Neto, fomos brindados com o lançamento em reedição de cinco títulos de autoria de um dos principais pensadores amazônicos e um estudo biográfico que revela o homem e o empreendedor Sócrates Bonfim.

Impossibilitado de comparecer ao lançamento, recebi o presidente-régio enviado por Selma e me vi embevecido pela apresentação, qualidade gráfica, elegância e esmerado cuidado com a edição das obras. Verdadeira demonstração de amor filial e respeito pela produção literária e científica de quem o Amazonas é devedor por inúmeros motivos, e, como em outros casos, não se envergonha de ainda não ter feito justiça com homenagens públicas de reconhecimento e apreço.
Reunindo os títulos “Valorização da Amazônia”, 2ª. Edição; “Esboço da vida amazônica”, 4ª. Edição; “Projeto Siderama, 2ª. Edição; “Política mineral para o Amazonas”, 2ª. Edição; “Matérias-primas Amazônicas”, 2ª. Edição, que se reúnem ao bem-elaborado estudo da vida e obra do autor, produzido pelo jornalista e escritor Elcias Moreira, formando coleção primorosa.
Conhecendo e possuindo edições anteriores, o teor dos trabalhos não me surpreendeu, mas a nova edição enseja a oportunidade de procurarmos despertar leitores que não estejam atentos a tão valioso contributo aos estudos regionais. A valorização da Amazônia carrega consigo a marca de Leopoldo Péres, o tio, e Arthur Cézar Ferreira Reis, ou seja, do autor da emenda constitucional que instituiu a responsabilidade da União Federal para com o desenvolvimento da região e do primeiro superintendente do organismo encarregado desse mister, mas está impregnada, positivamente, da respeitável contribuição de Sócrates, sobre quem Reis me declarou em conversa miúda no apartamento do Humaitá, ter sido um “homem amazônico hercúleo de pensamento profundo e largo”.

O esboço da vida amazônica foi traçado em conferência do autor, no Rio de Janeiro, em 1951, o qual, ao cuidar dos recursos naturais, minerais e das matérias-primas, extravasou da análise e da costumeira contemplação de outros, para desenhar projetos que levassem à solução das questões postas. Ao tratar do mais audacioso empreendimento para o desenvolvimento do Amazonas, Sócrates permite que as novas gerações venham a conhecer as razões e as justificativas que moveram seu coração e seu patrimônio pessoal: o projeto Siderama.
Quando tanto se fala em recursos naturais, obrigações e direitos para defesa e condições adequadas de exploração que propiciem o desenvolvimento econômico e a repercussão social efetiva e justa, o seu estudo sobre as “matérias-primas amazônicas” abre janelas para melhor compreensão do assunto. A mesma coisa pode-se dizer das reflexões que assentou visando a composição de uma política mineral para o Amazonas, que teve a edição prima pelo CODEAMA, importante instituição de governo que foi aniquilada e injustiçada pela incompreensão política de alguns, apesar das resistências e da defesa gigantesca que foi feita por vários estudiosos e, na intimidade do governo, pelo professor José Braga, então secretário de Planejamento do Estado.
Em estilo e forma peculiares, com desenrolar preciso e recortes ajustados ao tempo, o estudo biográfico de Elcias Moreira há de ter tido o contributo de Selma, filha e herdeira da inteligência e capacidade de trabalho de Sócrates que ao abrir o prefácio, traduziu com precisão cirúrgica o homem, o pensador, o pai, o empreendedor e o acadêmico: “perspicaz, inteligente, sagaz e educado (…) preocupado com os valores morais, religiosos e acadêmicos”, firme e respeitoso “sem jamais perder a delicadeza”.
Não poderia haver melhor tradução da figura exponencial de Sócrates Bonfim que ornou com letras doiro a Academia Amazonense de Letras e viveu o Amazonas com paixão. *O autor é
*O autor é advogado, membro da Academia Amazonense de Letras
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