ROBÉRIO BRAGA- Retrato a crayon
Corria o ano de 1893 e Manaus vivia a efervescência do apogeu da economia da borracha em pleno governo Eduardo Ribeiro (1892-1896), época em que tudo de chic e sofisticado, inclusive nas artes, parecia florescer de forma alargada para os mais abastados moradores da cidade.
E disso se tem falado muito e há muito tempo, mas, mesmo assim, ainda surgem notícias e informações que, pelo inusitado e alto nível de sofisticação, chegam a causar certo espanto, mesmo aos pesquisadores mais acostumados com tais questões. E foi isso que se deu quando me deparei com um anúncio de jornal, muito bem detalhado e longo, dando conta da prestação de um serviço artístico de cunho internacional, para o qual as peças a serem tratadas poderiam ser entregues a um agente sediado na capital amazonense ou enviadas por mala-correio.
Na ocasião, esse anúncio de jornal dava conta de um artista requintado que se dedicava a realizar “retratos a crayon, aquarelas e inalteráveis”, inclusive efetivando ampliação de fotos e indicava as especificidades desses serviços feitos à mão por “hábeis artistas”, conforme constava do mesmo jornal governista.
Não se tratava de amplificações retocadas, mas de obras de arte, verdadeiramente, cuja técnica era explicada como sendo feitos com “sombras suaves e acabado artístico”, e a preços considerados “essencialmente baixos” e cobrados de forma facilitada, mas em ouro, dólar ou papeis de bancos.
Eram retratos em formato de busto ou de corpo inteiro, tratados com ou sem moldura, inclusive óleo sobre tela, livres de fretes e de direitos de qualquer ponto. Os de tamanho ou tipo busto, medindo 10 por 12 polegadas, eram cobrados ao preço de 2,35 dólares, ouro americano.
Os trabalhos feitos a crayon, de vários tamanhos e de preços diversos, tipo busto ou corpo inteiro, nas dimensões de 10 por 12 até 22 por 27 polegadas, sempre ao preço mínimo de 2,35 e ao máximo de 6,75 para busto e de 5 a 13,50 para trabalhos de corpo inteiro. As aquarelas a óleo eram mais caras e começavam em 6,50 e chegavam a 15,0 para bustos, e de 10,0 a 74,0 para corpo inteiro.
Para facilitar o pagamento, aceitavam letras sobre qualquer localidade dos Estados Unidos, México, Canadá, Cuba e Europa, Recebiam ouro, prata ou notas de bancos de todos os países ao câmbio regular.
Restauravam retratos porque anunciavam esse serviço que seria feito com alta qualidade e, para motivar o cliente, deixavam registrado que ainda forneciam canhotos para sorteio de brindes que corriam ao longo da realização do trabalho contratado, oferecendo passeios na Exposição de Chicago de 1893.
Não se sabe muito bem se esse tipo de serviço teve plena aceitação, embora seja possível cogitar que tenha sido sucesso pela sofisticação e por ser de qualidade internacional o que costumava despertar maior interesse no seio da sociedade mais enricada da época, mas quem deve ter tirado bom-proveito disso é Euzébio de Souza Caldas, o detentor dos direitos de representação desse ateliê em Manaus.
Com isso, revela-se mais uma sofisticação da “belle époque amazonense”, ou uma das manias de riqueza que dominou o interesse de parte da população manauense da época.