ROBÉRIO BRAGA – Casa de Bernardo Ramos

 

Robério Braga

 

Corria o ano de 1917 e a Primeira Guerra Mundial abalava os alicerces de governos e depauperava populações. Manaus experimentava fortes sinais de empobrecimento imediato em razão da queda dos preços na exportação de borracha no mercado internacional, depois de largo período de apogeu econômico e desperdícios.

A primeira Universidade brasileira concebida e implantada na capital da hévea também estava abalada em sua estrutura e ameaçada de desintegração quando o médico, desportista e advogado Vivaldo Lima idealizou e tomou a iniciativa de articular personalidades – as de maior relevância na vida pública e intelectual da capital amazonense -, para a criação de Instituto que aglutinasse acervos de valor etnográfico, arqueológico, mineral, histórico, geográfico, documental, político e social, promovesse pesquisa e se transformasse em centro de memória do Estado.

Agrupando em seu redor, inicialmente, Bernardo Ramos, Antônio Bittencourt, Miranda Simões e Agnello Bittencourt eis que conceberam a criação do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas obtendo, como necessário, o apoio incondicional do governador Pedro de Alcântara Bacellar que, pouco depois, pelos efetivos serviços prestados à causa, foi elevado a Presidente de Honra e Benemérito da entidade.

Era 25 de março de 1917 foi realizada a reunião de fundação em salão do Palácio do Governo que funcionava no prédio do atual Museu da Cidade, antiga Prefeitura Municipal e Câmara de Manaus (o Paço da Liberdade). A partir de então foi preparada, com esmero e dedicação incontestes, a sessão solene de instalação do sodalício que foi levada a efeito em 13 de maio do mesmo ano, com toda a pompa e presença da nata da sociedade da época.

Desde então o Instituto se constitui em Casa da Memória do Amazonas como pretendido por seus idealizadores, já agora atravessando 107 anos de funcionamento nos quais tem preservado seus objetivos, ampliado seus acervos, modernizado sua forma de administração e servido a pesquisas que redundaram em dissertações e teses de alto nível apresentadas em universidades Brasil afora, graças a sua rica biblioteca, emblemático arquivo e valiosa hemeroteca, ao que se alia a contribuição de seus sócios e sócias que tem sido figuras exponenciais.

Nessa trajetória, mais que centenária, perlustraram e perlustram por seus salões de estilo as mais elevadas expressões da inteligência e dos estudos a que a Casa se destina e jovens em busca de melhor abeberar-se nesses acervos, resultando em publicação de obras, realização de seminários, simpósios, cursos e debates, além de fraterna e respeitosa convivência que representam enriquecimento aos que deles tem participado.

Revigoram-se, a cada ano, as suas colunas mestras sedimentadas pela plêiade fundadora notadamente pelo ingresso de novos sócios que assumem o compromisso de elevá-lo, ainda mais, e perseguir meios e modos de vencer o tempo e manter o Instituto fiel a seus princípios, como o conduziram Alfredo da Matta, Anísio Jobim, Mário Verçosa, João machado, Geraldo Pinheiro, André Jobim, Arthur Reis, Mário Ypiranga Monteiro, André Araújo, João Corrêa, Rodolpho Valle, Mateus da Silva, Nonato Pinheiro, Junot Frederico, Ildefonso Pinheiro… e outros tantos que habitam os páramos superiores.

Faz pouco estamos sob a presidência do consocio José dos Santos Pereira Braga que nos alimenta com seu saber e entusiasmo e nos ilumina com o brilho de sua personalidade, depois de termos experimentado a condução elegante e soberana da inteligência de duas professoras, as doutoras Edneia Dias e Marilene Corrêa.

Há largo caminho a percorrer com o contributo de quantos se inscrevem nos quadros do Silogeu e dos que hão de chegar para oferta e recolho de conhecimentos. Afinal, a Casa da Memória do Amazonas há de permanecer.

 

*O autor é advogado, membro da Academia Amazonense de Letras; foi secretário de Cultura do Amazonas*
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