ROBÉRIO BRAGA – Povos da Amazônia

 

Robério Braga

Para reunir acervos representativos dos povos tradicionais da Amazônia Continental, ampliar e consolidar a posição do Estado do Amazonas e de Manaus em particular, como polo singular desses valores, não só referente às águas, florestas, biodiversidade e bens culturais e minerais, há anos passados, quando titular da Secretaria de Estado de Cultura e instigado pelo então governador Amazonino Mendes, que fizera o ISEA – Instituto Superior de Estudos da Amazônia o qual não alcançou os fins cogitados, foi que decidimos elaborar projeto de criação do “Centro Cultural Povos da Amazônia -CCPA”.

Para este fim, coube à competente museóloga Veralucia Ferreira de Souza, baiana de nascimento e amazônida de coração e alma, trazida para Manaus nos primeiros anos de 1980 e que tanto tem feito pelas manifestações de valores culturais de nossa terra, coube a ela, por nossa incumbência, a definição de conceitos, concepção da formação das coleções, das exposições e da ocupação do prédio que foi sendo construído como uma joia rara na Praça Francisco Pereira da Silva, com a qual já havia me familiarizado desde quando organizei o Festival Folclórico do Amazonas e preparei a missa da visita do Papa João Paulo II nesse logradouro.

Feito e aprovado o Projeto que foi desenvolvido por um time de primeira categoria e com grande entusiasmo aos quais homenageio com este artigo, mas a obra física não teve a mesma celeridade. Na verdade, ficou estagnada. Com a mudança de governo, e após as adaptações devidas, o novo governador, Eduardo Braga, com seu dinamismo e competência, tomou a cabo “desencantar o prédio em construção” e conferiu à SEC as condições necessárias para a implantação do Centro Cultural, um memorial dos povos que preservam a região há milênios, com suas múltiplas línguas, valores, crenças, artes, sabedorias…

Ao longo dos anos o CCPA foi ganhando mais corpo e adensando coleções. Incluiu o Museu do Homem do Norte, com suas raridades em 5 mil peças, cedido em comodato pela Fundação Joaquim Nabuco; a biblioteca do mestre Mário Ypiranga Monteiro com mais de 15 mil volumes, fitas cassete, anotações, jornais e fotos; a biblioteca do professor Arthur Cézar Ferreira Reis, incluindo livros, revistas, fotos, hemeroteca, uma verdadeira preciosidade; o Centro de Documentação Samuel Benchimol, encarregado de coletar e processar tecnicamente os mais variados documentos sobre a Amazônia; além de acervos de Leonide Principe, Andréas Valentim, Genesino Braga, Aristophano Antony, Denise Cabral dos Anjos, J.G. Araújo…

Lá estão os ícones rupestres que simbolizam os vários povos da região, o auditório “Gabriel Gentil”, o Cine “Silvino Santos”, o Espaço “Rio Amazonas” para conferências e exposições, a passarela dos arcos, a Arena de Artes, com 17 mil lugares, o Ercam – Espaço de Referência Cultural que inclui a casa do caboclo, casa de farinha, casa do mateiro, barracão do guaraná, canoas, casa do seringueiro, a maloca Aruak, moenda de cana, tapiri de defumação de borracha, o Xapono Yanomami…

Há uma reserva técnica com centenas e centenas de outras coleções especiais, e, no mundo digital, milhares e milhares de peças digitalizadas de acervos da Ordem dos Advogados do Brasil, Posto Cardoso Fontes, Arquivo Público do Estado, Biblioteca Pública, Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas, INPA, e inúmeros sites importantes que foram construídos e mantidos pela SEC por meio do CCPA.

Dia desses, vi que fizeram um evento para festejar o aniversário do CCPA, o que significa que ele está em efervescência, como sempre foi ao tempo que estive por lá, e da forma desejo que permaneça.

*O autor é Membro da Academia Amazonense de Letras, ex-secretário de Cultura do Amazonas

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