ROBÉRIO BRAGA – Folguedos juninos

 

Robério Braga

O título do artigo desta semana corresponde à expressão mais utilizada em nossa terra, há muito, sempre que começa o período da temporada de festejos folclóricos que, desde que me entendo, têm início a 13, com Santo António e seguem até 30 com São Marçal e suas fogueiras feitas de paneiros.

Trata-se de fase do ano em que nos tornávamos ainda mais amazônidas, laureados pelas inúmeras brincadeiras que experimentávamos com animação, danças regionais como Tipiti, Congo, Imperial, Jacundá, Dança do Aro, quadrilhas, pássaros, garrotes, boi bumbá como Corre-Campo, Mina de Ouro e Tira Prosa que eram os mais famosos, tudo desfilando pelas ruas e correndo nos famosos arraiais que eram realizados nos bairros, como grandes festas populares.

E foi dessa empreitada comunitária – por assim dizer –, notadamente a do bairro da Cachoeirinha, nas imediações da Igreja de Santo António, a que se chama, também, de “Pobre Diabo”, que mestre Mário Ypiranga Monteiro se empenhou em realizar um festival folclórico com manifestações as mais tradicionais e autênticas que se conhecia na época, lá pelos anos finais da década de 1940.

Depois disso, surgiu o Festival realizado no Estádio General Osório, feito de outra forma e com outra animação porque sob os auspícios do governo do Estado e organização de “O Jornal” e “Diário da Tarde”, órgãos de imprensa da empresa Archer Pinto, que também realizava corridas de rua, pedestre e ciclista, atuando quase que em substituição ao Poder Público que, neste ponto, era quase inerte.

E foi no Festival do General Osório, o Festão do Povo, como a população se acostumou a chamar, que inúmeros grupos organizados pelos bairros da antiga Manaus e nas escolas públicas passaram a disputar verdadeiros campeonatos que, com o passar do tempo, foram contribuindo para a descaracterização das “brincadeiras”, acelerando um processo que, se tivesse sido natural, como deve ser, estaria bem conforme a lógica aceita pelos pesquisadores de folclore.

Depois disso tive o privilégio de procurar “organizar” esse mesmo festival, na Bola da Suframa, de criar a primeira associação de grupos folclóricos do Estado, apresentar o boi bumbá Garantido, vencedor da festa de Parintins daquele ano, pela primeira vez, na capital amazonense, e estabelecer um esforço de recomposição da forma de apresentação dos grupos.

O passar dos anos agravou a descaracterização das apresentações mais tradicionais, mesclou influências típicas com tecnologia e acolheu danças “inventadas” e sem qualquer referencial histórico, ao mesmo tempo em que foi bastante aumentado o número de grupos ou agremiações enquanto as fogueiras e folias de São João, São Pedro e São Marçal foram se transformando em coisa de saudosistas.

Será que os folguedos juninos deste ano na cidade de Manaus serão ao modo que se possa falar em tradição, como deveriam ser, ou deveremos largar de mão a esperança.

*O autor é Membro da Academia Amazonense de Letras, ex-secretário de Cultura do Amazonas

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