CARLOS SANTIAGO – A opressão sexual pode ser a causa do fascismo?

 

Carlos Santiago

O psicanalista, sexólogo, psiquiatra e escritor austríaco, Wilhelm Reichc (1897-1957), publicou a obra “Psicologia de Massas do Fascismo”, em 1933, para explicar o fenômeno político popular que crescia dentro de um contexto social, político e econômico, na Europa pós-primeira Guerra Mundial. O livro não foi bem recebido pelos nazistas, pelos religiosos, pelos comunistas e nem pelas entidades representativas dos psicanalistas, pois a obra faz críticas ao fascismo, ao marxismo comum ou vulgar e aos religiosos e suas instituições.

Ele não partia da origem do fascismo apenas como sendo o reflexo de um nacionalismo extremado que criava uma ideologia política de massa que conquista mentes, corações e braços e que estaria somente restrita ao Japão e ao Estado alemão. Reichc defendia que esse fenômeno é universal e é causado por opressões sexuais sofridas pelo homem médio ao longo da formação do seu caráter moral.

Para Reich, as condições econômicas, materiais da população e o apelo dos comunistas em favor de bons salários e de condições de trabalho, não definiam a base ideológica das massas. Era preciso ir fundo no estudo sobre a base estrutural psicológica das massas, pois o marxismo comum não trata dos aspectos psicanalíticos, o lado subjetivo das pessoas, os seus desejos e pulsões negadas; e nem a psicanálise tradicional buscava a compreensão psíquica dos indivíduos por meio dos fatores sociais.

Então, ele fez uma união da teoria marxista e com os estudos de Freud para criar um modelo de interpretação da realidade denominado de economia sexual para estudar as causas do Fascismo e a sua grande aceitação popular. Até para responder a seguinte questão: por que não existe uma consciência de classe ou uma reflexão revolucionária na população explorada?

Segundo Reich, na infância do ser humano, a família impõe castigos e opressões, inibindo o desejo ou caráter natural da sexualidade. Depois, já na fase adulta, a igreja tem esse papel de modelar o ser humano e impedir ou oprimir a sua sexualidade. Logo, um homem que foi uma criança medrosa, tímida, obediente e dócil; e um adulto conduzido por fé cega, pelo medo do pecado e pela aceitação do irracional para compreender a vida, definem as bases para a construção de sociedades que aceitam posturas violentas, dirigentes autocratas e regimes políticos autoritários.

O escritor afirma que existem nas sociedades mecanismos psicológicos que estão positivados em leis e em organizações educacionais que impedem a liberdade do homem. O mais perigoso é que esses mecanismos formam pessoas medrosas e alienadas que nem lutam pela própria liberdade; aceitam sem contestações as suas condições materiais, sendo capazes de aceitar e de praticar o uso da violência militar, da violência de guerra e outras violências como uma forma de explosão devido a sua sexualidade reprimida.

O fascismo seria a “expressão da estrutura irracional do caráter do homem médio, cujas necessidades biológicas primárias e cujos impulsos têm sido reprimidos há milênios”, um fenômeno que vem crescendo em vários países, como uma doutrina universal, independentemente das condições econômicas e geográficas.

Pois bem. Eu não vejo como a opressão sexual possa dar conta em explicar a causa do fascismo em sua totalidade. Contudo, é possível acolher o uso da psicanálise como instrumento que podemos utilizar para tentar explicar as origens políticas do fascismo.

 

*O autor é sociólogo, pós-graduado em Ciência Política e Advogado.

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