AUGUSTO BERNARDO CECÍLIO – Manaus e os desafios de uma metrópole isolada

 

Augusto Bernardo Cecílio - Foto: Reprodução.

Manaus é uma grande mãe que recebe a todos de braços abertos e com muito amor, mas nem sempre recebe esse carinho de volta. Conhecer Manaus é vivenciar tantos lugares bonitos e históricos, uma deliciosa culinária, com uma miscigenação que enriquece a nossa história e a formação do nosso povo, passando pelos mais variados ritmos, cantos e encantos de uma cidade encantadora, mas que merece bem mais de governantes das três esferas e da própria população.

Por aqui os rios secaram e estamos “convivendo” com a maior seca do século e com isso não há navegação. As cidades do interior estão isoladas, sem abastecimento, remédios, alimentos, combustível. Os preços subiram assustadoramente. Alguém, nessa altura do texto, já se apressaria em culpar as mudanças climáticas. Calma!

As balsas que traziam alimentos do Sul e Sudeste não passam pelo Rio Madeira. Navios com insumos para as fábricas do Polo Industrial de Manaus só chegam até Itacoatiara. Todo o transporte de carga e passageiros foi para a BR-319, na ligação do Amazonas com o resto do país. Tudo encarece. Tudo fica cada mais difícil a cada ano.

Com isso temos filas quilométricas na estrada por onde tem passado milhares de carretas, no maior sufoco. Os rios secaram e duas pontes caíram há dois anos e não foram reconstruídas, portanto, tem caminhoneiro que leva muitos dias para atravessar do Careiro da Várzea para Manaus. E o sofrimento aumenta com esse calor insuportável e fumaças provocadas pelas queimadas, sem a menor condição de higiene.

As mercadorias perecíveis estão estragando. Do lado de Manaus há filas para atravessar de cinco quilômetros de caminhões no Distrito Industrial com mercadoria do PIM para abastecer o mercado brasileiro, certamente prejudicando a sua comercialização na Black Friday, Natal e em compromissos já assumidos. Com essas informações mínimas já dá pra perceber a importância da logística da estrada, que existe, mas está abandonada.

Na pior época da Covid aqui, caminhões levaram cinco dias para chegar vindos de Porto Velho com oxigênio, enquanto cidadãos morriam sem ar nos hospitais, um castigo sem precedentes para a nossa população que jamais perdoaremos. Portanto, essa estrada é fundamental para a sobrevivência das pessoas, para a sociedade e para o governo, pois sem produção e comercialização a riqueza não circula e não existe a arrecadação tão necessária para colocar em prática as políticas públicas.

Além da citada estrada, muitas coisas não vão bem. Não se trata de apontar culpados, mas vale pensar que o sucesso ou o fracasso de uma cidade depende muito das pessoas, e aí entra um apelo para que haja mais sentimento de pertencimento em torno do que aqui temos. É preciso abraçar Manaus como sua e não só da boca pra fora.

Cidadãos e governantes estão no mesmo barco e são eles que fazem ou não fazem acontecer coisas boas em qualquer cidade. Quando governantes e governados se respeitam, quando respeitam a cidade como verdadeiramente sua, certamente se cria um ambiente favorável para que reine a harmonia, o bem-estar, a alegria e a prosperidade.

Por exemplo, não precisamos implorar aos governantes por melhorias urbanas ou por resoluções de problemas simples de um bairro, de uma rua, e sequer podemos tolerar a prática de vandalismo por alguns munícipes. Não podemos, com esse clima pesado, imaginar ambientes públicos descampados, sem arborização, bem como milhares de casas sem uma árvore sequer na frente, e aqui vai um pequeno exercício: veja na sua rua quantas casas possuem árvore plantada.

Não é possível, também, observar que muitas pessoas sequer conhecem os seus direitos e deveres, e isso reflete diretamente na qualidade e na quantidade dos serviços públicos colocados à disposição da sociedade. É comum um poste ficar com luz queimada durante dois meses e ninguém toma a iniciativa de ligar. E isso é ótimo para o governante, já que ninguém reclama.

A mesma coisa ocorre com problemas que só irritam a população. Como exemplo cito o Conjunto Kissia, dito remediado, pequeno e fácil de se controlar, mas que virou passagem para milhares de carros que fogem dos semáforos e dos constantes engarrafamentos na Bola das Letras, provocando inúmeros acidentes nos cruzamentos oriundos da péssima educação e irresponsabilidade dos motoristas, e da falta de redutores de velocidade não implantados pelo poder público, sem contar com uma praça abandonada, talvez à espera da próxima Copa do Mundo no Brasil.

Às vezes penso que todos estão satisfeitos porque a população acaba elegendo e reelegendo sempre as mesmas pessoas, e isso vale também para as demais esferas de governo. O que todo eleitor deveria aprender é que político não precisa de fã clube. Político precisa é de cobrança, quando necessário.

Mas não basta só cobrar. É fundamental que cada cidadão faça a sua parte. Dizer que adora Manaus e continuar jogando lixo nos igarapés e ruas é uma tremenda contradição. Amar Manaus também exige que se peça notas fiscais nas suas compras e serviços, pois a cidade depende do dinheiro dos impostos para crescer e prosperar. E isso é tarefa de todos. Amar Manaus é uma obrigação.

*O autor é auditor fiscal e professor

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