ROBÉRIO BRAGA – Reconhecendo o Natal
Os festejos natalinos, tal como os conhecemos, com vibrações positivas de alegrias e luzes que resplandecessem por toda a cidade, reanimando os homens a fortalecerem a fé e a boa vontade nas relações familiares e sociais, e com ceia e troca de presentes é coisa tão antiga quanto nem se pode pensar, e não como costumam propalar alguns menos avisados.
A data especial de 25 de dezembro foi fixada no século IV pelo Papa Júlio, para assinalar a data provável do nascimento de Cristo, mas, mesmo que haja essa confirmação anual, diversos povos que adotam essa consagração, comemoram de forma diversa, sempre conforme as tradições e culturas que os caracterizam, alguns procurando manter e fortalecer o espírito de fraternidade que a preside.
A Ceia de Natal, nos primórdios em que foi adotada, era um encontro frugal entre poucos convivas de família aproveitando o encontro após a celebração da Missa do Galo, muito sagrada para os católicos apostólicos romanos, mas esta Ceia, com o tempo, foi sendo enriquecida com regalos mais régios e sofrendo mudança de horário para alguns grupos de pessoas, chegando a ser antecipada à Missa e a ser servida independentemente do comparecimento a esse santo ofício religioso católico.
A troca de presentes que costuma alegrar as crianças, vem desde a Roma Antiga, quando era levada a efeito nas festas de Saturnália, que eram realizadas em homenagem ao deus Saturno, entre 17 e 23 de dezembro, no solstício de inverno, sendo bastante popular e considerada de “renascimento do ano”, portanto, de Ano Novo, na forma de rito tipo pagão, tempo em que os romanos presenteavam aos amigos com estátuas dos “deuses” que adoravam. Depois, desejando aumentar a riqueza dos presenteados, davam-lhes ouro; para demonstrar desejo de sabedoria, davam-lhes candeeiro; para desejar uma vida de delícias, davam-lhes doces… e por aí seguiam, sempre procuravam manifestar, de forma simbólica, o desejo que estavam representados nas lembranças.
O presente de Natal, como ainda hoje parte das famílias consegue trocar, foi ideia do papa Bonifácio VII, no século X, que, após a Missa, distribuía pão aos fiéis e, em troca, recebia regalos no dia dos Santos Reis. Depois, evoluindo gradualmente para o formato usual que conhecemos, cada vez mais transformado em demonstração material de simpatias, agradecimentos e amizade, abstraindo-se o sentimento verdadeiro que a data deveria representar, como o da solidariedade, da esperança, dos bons e sinceros votos de felicidade e paz espiritual.
Após muitos anos nos quais esses festejos tiveram uma conotação mais sacra, religiosa e sob conceitos mais cristãos, em meados do século passado parece ter havido uma evolução mais intensa do sentido comercial dos festejos natalinos com valorização maior dos presentes, da ceia, dos brindes com bebidas requintadas, da preparação das casas de residência e, gradativamente, das próprias cidades com decorações exuberantes sem que o “verdadeiro espírito natalino”, assim considerado o da fraternidade entre os povos fosse valorizado e estimulado em família e na sociedade. A criação e a propagação de figuras lendárias como o Papai Noel estimularam esse viés que se confirma ano após ano, e que vem abafando o sentido primordial dessa oportunidade de congraçamento humano.
Para os que creem na presença de Cristo e sua passagem sobre a terra, para os que compreendem que há um corpo espiritual eterno, o transcurso dessa data simbólica precisa se revestir ser comemorada com alegria, entusiasmo e festejos, mas, antes de tudo, ser tomada como uma oportunidade para reconstrução interior de cada ser humano.
*O autor é advogado, membro da Academia Amazonense de Letras, ex-secretário de Cultura do Amazonas