ROBÉRIO BRAGA – Começando o ano
Depois que a Kamélia se recolheu para o novo repouso anual, devendo sair para o próximo carnaval como sucede há muito anos depois que o velho Kandu inventou a tal da boneca de mão que caiu do galho, mas não perdeu a festa em homenagem à Jardineira que brincava sozinha pela cidade, só agora, guardados os tambores, recolhidas as fantasias, festejadas as vitórias e choradas as mágoas, depois de tudo isso é que a vida do brasileiro vai voltar ao normal, como se costuma dizer.
Os planos e projetos mais detalhados dos governos começam a entrar em cena, a economia volta a girar, as escolas reabrem as salas de aula, os espetáculos de arte voltam à cena e até os jogos de futebol parece que ganham mais público e vigor, vencida a euforia às vezes quase irresponsável que o carnaval imprime.
Na esteira dessa realidade é que festejaremos os 108 anos de fundação do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas no próximo dia 25 de março, a mais antiga instituição de cultura e preservação da memória amazonense, fruto do idealismo e concepção de Vivaldo Palma Lima e da determinação de Bernardo Ramos, Antônio Bittencourt, Miranda Simões e Agnello Bittencourt, os pioneiros, entusiasmo que vem sendo estendido esses anos todos por várias gerações e que perpassa por João Machado, Mário Ypiranga, Arthur Reis, André Jobim, Anísio Jobim, João Corrêa, Geraldo Pinheiro, André Araújo, Junot Frederico, Roosevelt Braga, Arlindo Porto, Ildefonso Pinheiro, Matheus da Silva, Antônio Braga Teixeira, Padre Nonato Pinheiro, Crisantho Jobim, Humberto Figliuolo e muitos outros igualmente importantes para a manutenção da entidade não só do ponto de vista de suas instalações, mas, sobretudo, de seus reais objetivos.
Há 52 anos tenho o privilégio de conviver na intimidade da Casa que se decidiu nominar de Bernardo Ramos, seu primeiro presidente, o cientista, numismata, pesquisador inveterado, republicano e positivista a tal ponto que recusou comenda do imperador Dom Pedro II e que deu a Instituto a dimensão que ele precisava, enquanto Agnello ordenava a secretaria, Vivaldo impunha e fiscalizava as regras estatutárias, Miranda Simões redigia as normas e Antônio Bittencourt mantinha as relações políticas necessárias para que tudo corresse a contento na instalação da entidade, dado sua proximidade com o mundo político-partidário e com o próprio governador Pedro Bacellar.
Na parte dessa jornada da qual tenho sido partícipe cumprindo vários papéis e funções diretorianas, inclusive a presidência por três vezes, a primeira elas por uma dezena de anos, o que mais me atrai é o aprendizado que essa convivência permite, ainda que sempre pese sobre os ombros a responsabilidade de bem representar o nome do Sodalício, que é natural de membro Efetivo, posição que é motivo de orgulho e honra, perfilando a outros pares igualmente dedicados à Casa, a pesquisadores de renome, festejados professores e professoras, jornalistas, poetas, todos, enfim, amantes do belo, das letras e das artes, mas, sobretudo, atentos à imperiosa necessidade de preservação da memória e do culto à geografia e à história amazonense por excelência.
Os mais jovens, ou os novos “benjamin” que podem vir a ocupar poltronas no Instituto, como os titulares que vão assumir seus lugares em breves dias, assumem, também, a missão de manter, projetar e elevar o sodalício para o segundo centenário de fundação com o brilho, o entusiasmo e a grandeza dos que os receberão representados pelo espírito pujante do atual presidente, José dos Santos Pereira Braga, tal como o fizeram todos os que o antecederam no sólio.
*O autor é advogado, membro da Academia Amazonense de Letras.