ROBÉRIO BRAGA – Político sem mandato
A política encanta, seduz, empolga e é capaz de conduzir, especialmente os mais jovens, a enveredarem pelos caminhos partidários em busca do exercício da representação popular, de conquistarem a confiança do eleitor. Ao mesmo tempo, a política, tal como se conhece na atualidade, também assusta, amedronta, desencoraja, porque nem sempre é exercida visando os seus fins e, não raro, é desviada para escaninhos escuros e indesejáveis para pessoas de bem.
Tempo houve em que o exercício do mandato parlamentar exigia dotes de oratória que fosse capaz de impressionar, convencer e fidelizar o eleitor; o mandato de executivo, além das qualidades oratórias, reclamava pendores para a liderança e organização e gestão do Estado. E há muitos exemplos bem-sucedidos que poderiam ser referidos, em ambos os casos.
Outra vertente, também de grande importância para a sociedade democrática, nem sempre conta com apaixonados cultores, qual seja a de exercer a boa e salutar política no cotidiano da vida, no encaminhamento dos filhos, no aconselhar os amigos, no conversar, analisar possibilidades de candidatos e os cenários possíveis a serem desenhados pelos acordos partidários. Seria, pois, respirar política e viver política no reservado da própria residência, no escritório de trabalho profissional, na aproximação com esse mundo sensível, rico de experiências e que, sem dúvida, seduz, especialmente aos devotados às liberdades, à democracia e defensores do desenvolvimento do país. Isso faz com que quem nunca tenha disputado uma eleição diretamente se empenhe em construir ou ajudar a construir candidaturas que fortaleçam o bem comum.
Tive o privilégio de conhecer algumas personalidades com esse perfil e com elas, de certa forma, estabelecer uma proximidade e, sobretudo, admirar essa característica humana que rareia a cada dia.
Um desses homens de escol partiu há poucos dias para os mundos estelares na continuidade da vida espiritual que é eterna: Carlos dos Santos Braga. Verdadeiro político, na acepção mais completa do termo, animava-se a cada período de campanha e a tal modo que ajudou a construir e apoiou de forma decisiva a candidatura do irmão, João Braga, a deputado estadual, prefeito de Manaus e senador da República. Depois, tendo encaminhado a família para uma formação humana e justa, foi de grande impulso para a carreira vitoriosa de Eduardo Braga, seu filho, inaugurada como vereador de Manaus e caminhada como deputado estadual, deputado federal, vice-prefeito e prefeito de Manaus, governador do Estado e senador da República. E quando falava desse ânimo que o conduzia para a política, seus olhos ganhavam mais brilho e sua voz se fortalecia. Era visível o entusiasmo.
Não foram poucas as conversas que travamos no escritório de sua residência, com ele sempre à cabeceira da mesa, trajando roupas elegantes e clássicas para a sua idade, pronto como se fosse a uma solenidade, bem barbeado e penteado, ocasião em que fluíam vários assuntos, mas o tema central era política, variando por sua devoção por Nossa Senhora de Nazaré, a sua fidelidade às origens paraenses, a sua enorme paixão pelo Amazonas e suas potencialidades e, de entremeio, algumas lembranças saudosistas da juventude, da história das empresas que criou, dos sucessos e das lutas que travou para vencer e os novos santarenos que haviam chegado a Manaus e que ele fazia questão de procurar conhecer.
Carlos Braga era um brasileiro apaixonado pelo país, pela política e pela família. Um genuíno político sem mandato.
*O autor é advogado e membro da Academia Amazonense de Letras