ROBÉRIO BRAGA – Obras de valor
É certo que a bibliografia sobre a Amazônia, e a região do Rio Negro e a Província e o Estado do Amazonas, em particular, é vasta, ainda que algumas poucas nem sejam recomendáveis, mas há certas publicações e autores que merecem referência especial, seja pela clareza com que escreveram ou escrevem, pelo nível de aprofundamento dos textos assim como pela farta documentação em que se baseiam, razão pela qual acabam se constituindo em obras de consulta obrigatória, conforme o tema de interesse do pesquisador.
Há até aquelas que vêm sendo reeditadas com alguma frequência, como sucede com a “História do Amazonas”, de autoria do professor Arthur Cézar Ferreira Reis, a “Fundação de Manaus”, do mestre Mário Ypiranga Monteiro, “A Cidade de Manaus”, de sempre considerado Bertino de Miranda Lima, por exemplo, dentre diversas outras que têm merecido maior circulação.
Dentre as instituições culturais amazonenses, a Academia de Letras e o Instituto Geográfico e Histórico têm se dedicado a esse mister, assim como sucede com a Universidade Federal do Amazonas e, no campo das empresas privadas, a editora Valer, todos prestando relevante serviço às letras, às ciências e, com isso, notadamente aos estudiosos dos temas amazônicas.
Dias desses pude constatar, mais uma vez, quão valiosas são “Limites Orientaes do Estado do Amazonas”, original de 1911, de autoria de Furtado Belém, e “Manaus”, da lavra de Agnello Bittencourt, o filho, este que foi mandado publicar ao tempo em que fui Secretário de Estado de Cultura, dentre os mais de oitocentos títulos então editados ou reeditados.
O primeiro, com o propósito maior de demonstrar a forma de ocupação das terras amazonenses pelo governo paraense, principalmente em razão da alteração que este mandou proceder quando determinou o rebaixamento da Província do Rio Negro à condição de Comarca do Alto Amazonas, em 1833, deformação ilegal que perdurou por muitos anos e ensejou inúmeros estudos, debates, reivindicações e ações judiciais por parte do governo amazonense, desde o período imperial, e atravessou boa parte da Primeira República (1889-1930), além de evidenciar as várias cidades que foram se sucedendo ao longo dos anos; o segundo, com originais recebidos em doação pela família do autor, para que fosse publicado pelo Governo do Estado, o que se realizou em 2012, depois de seu falecimento, analisa com bastante clareza e linguagem direta, o condicionamento geográfico de Manaus sob as percepções de espaço, posição e sítio, destrincha a origem da cidade, cuida da sua evolução demográfica, da posição da cidade em relação à chamada Amazônia Interior e alcança a cidade moderna, percebe as diversas cidades que nela se contém e conclui apreciando causas e consequências da estagnação e da explosão.
São dois livros dignos de figurar nas estantes dos pesquisadores mais competentes e dedicados ao estudo de nossa geografia e história, sem favor algum, e deveriam ser utilizados em cursos de pós-graduação universitária como se faz com catecismo na formação cristã.
São duas obras de valor por escritores de elevada estirpe;