ROBÉRIO BRAGA – O herói da revolução

 

Robério Braga

 

Apesar de não haver sido o primeiro comandante das forças federais que tomaram o poder civil em Manaus naquele 23 de julho de 1924, coube ao fluminense Alfredo Augusto Ribeiro Júnior (1887-1910), a primazia de se tornar líder, chefe e herói popular da revolução tenentista manauense, papel que desempenhou muito bem, segundo o cenário e os ditames da época.

O início de sua carreira militar data de 1906, alcançando as graduações de segundo-tenente (1915) e primeiro-tenente (1920), preparado nos cursos de Infantaria e Cavalaria. Alcançou os postos de capitão (1930) e major (1935), falecendo com 34 anos de serviço militar. Portanto, em 1924, quando servia no 27 Batalhão de Caçadores, em Manaus, estava naturalmente envolvido no espírito tenentista revolucionário que grassava há alguns anos para libertar o país das eleições fraudulentas e dos governos corruptos e oligárquicos.

Havia chegado a Manaus a 24 de março de 1924, transferido para o serviço ativo do Exército, trazendo o fervor do clima militar do Sudeste do país. Não encontrou mais Rego Monteiro no cargo de governador, mas há de ter ficado alarmado com as mazelas impostas ao povo e os achaques dos governistas contra os funcionários públicos.

Não se deve cogitar que lideranças locais estivessem inertes ao clima pesaroso e criminoso imposto por Rego Monteiro e sua tropa. Nas trincheiras civis, havia quem reagisse com vigor, como Carlos Mesquita, Waldemar Pedrosa, Arthur Uchoa, Clóvis Barbosa, Júlio Uchoa, Coriolano Durand, Jacintho Botinelly, Epaminondas Bittencourt, dentre outros, porém, o que mais se sobressaiu imediatamente foi Crisantho Maria Jobim, que foi o primeiro orador em comício público no Palácio Rio Negro, quando da deposição, prisão (ou fuga, para alguns), de Turiano Meira.

Ao lado de Ribeiro Júnior como governador militar naquele período inicial, estiveram os tenentes do Exército:  José Carlos Dubois, Batista de Almeida, Lemos Cunha, Aurélio Linhares, Magalhães Barata, Baker Azamor, Raymundo Fontenelle, Loé Simas, Aluízio Ferreira, Osmundo Anequim, Mendes de Holanda, Dias Vieira, Alves da Cunha, Dias Vieira, Abílio Costa, Mendes da Silva e Joaquim Lins. Vários civis foram chamados para cargos importantes da administração pública, como Chagas Aguiar, Marciano Armond, Antônio Barroso, Alencar Araripe, Carlos Mesquita, Paulino de Brito.

O cenário geral da cidade foi modificado rapidamente. Euforia, vitória, quebra-quebra de casas e bens dos decaídos, comícios lotados de homens, mulheres e crianças. Discursos públicos, notícias de imprensa, tomada de bens de antigos correligionários de Rego, pagamento dos salários e pensões atrasadas, “Imposto da Redenção”, seriedade rigorosa no serviço público, moralidade administrativa…, ou seja, completa mudança na vida política e social da cidade.

No jornal de Júlio Uchoa, com 158 números editados, a coluna mais lida e comentada era a “Galeria Negra”, na qual ele registrava os nomes dos mandantes e praticantes de desmandos, e os desmandos e assaltos contra os cofres públicos e o bolso do povo.

Em busca de restabelecer o que ficou denominado de normalidade constitucional, o Governo Federal depôs Ribeiro Júnior, o tornou desertor, prendeu por decisão de Tribunal Militar com pena de mais de três anos recolhido à prisão militar de Ilha Grande, onde ficou até fevereiro de 1927, sendo anistiado em 1930. Tempos depois, ele retornou nos braços do povo como candidato a deputado constituinte pelo Amazonas (1934), perdeu eleição por culpa de Aluízio Ferreira, mas foi eleito deputado federal amazonense em 1935, perdendo o mandato em 1937.

Durante muitos anos, Ribeiro Júnior foi festejado como herói da revolução.

 

O autor é membro da Academia Amazonense de Letras, advogado e ex-secretário de Cultura do Amazonas 

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