CARLOS SANTIAGO – Culto à ignorância
Depois dos governos de Fernando Henrique Cardoso, de Lula da Silva, de Dilma Rousseff, de Michel Temer e de Jair Bolsonaro, com posições ideológicas até antagônicas, o Brasil continua sendo um dos piores países na área de Educação Básica. É o que mostra o resultado do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – Pisa/2022, em que o Brasil aparece ocupando a 65ª posição em Matemática, 52ª em Leitura e 62ª em Ciência, no total de 81 países avaliados.
O Pisa é um exame realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE, realizado a cada três anos, focado nos discentes de 15 e 16 anos, de 81 países, que estão concluindo o Ensino Básico. As questões formuladas buscam a compreensão e a interpretação pelos discentes dos conceitos matemáticos aplicados no cotidiano, “dados e fenômenos científicos”, além de possibilitar um entendimento de textos dentro de seus contextos para traduzir o nível de letramento do aluno.
Outros exames nacionais já demonstraram a péssima qualidade da educação formal do Brasil. Em 2021, o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) constatou que somente 5% dos estudantes do Ensino Médio da rede pública tinham educação adequada em matemática, em língua portuguesa chegava a 31,3% dos alunos, ou seja: o país não cuida bem da educação do seu povo. A péssima qualidade não atinge somente alunos da escola pública. Dados do Pisa de 2022 indicam que o baixo desempenho no exame chega aos mais ricos do país e ao ensino do setor privado.
Não existe apenas uma causa para tentar explicar a péssima Educação Básica oferecida aos brasileiros. Há problemas que envolve a formação de docentes nas universidades e nas faculdades; em milhares de escolas, há péssima condição de trabalho para os profissionais; muitas metodologias de ensino utilizadas estão ultrapassadas; a baixíssima remuneração do profissional de educação não é atrativa para cursar uma licenciatura e seguir a carreira do ensino.
Há, também, a ineficiência na gestão escolar. Gestores despreparados, comunidade escolar distante das decisões de governos e pouco envolvimento prático dos pais na educação formal dos filhos. E tem pouca escola com educação de tempo integral. O debate sobre os conteúdos do Ensino Médio tem distanciado os governos dos Estados e o Ministério da Educação. Acontecem grandes debates, várias reuniões, mas pouco aproveitamento.
Existe, ainda, muita corrupção. Recentemente, com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), foram comprados kits de robótica com fraude em licitação e lavagem de dinheiro com preço superfaturado. Alguns kits não foram entregues; e outros nunca foram usados pelos alunos.
Para piorar, nos últimos anos, nas Casas Legislativas de todo o país, as posturas de deputados e vereadores só revelam a falta de compromisso com a educação no Brasil. Foram apresentados Projetos de Lei para tornar a Bíblia um material de uso escolar; outros projetos para a utilização dos espaços escolares por religiões; além de debates improdutivos sobre o uso ou não da linguagem neutra no ambiente escolar. Parece um culto à ignorância diante dos enormes desafios do Brasil na área de Educação, como demonstra o Pisa.
Os indicadores educacionais não vão melhorar sem governos comprometidos, sem o devido planejamento, sem boas escolas com educação de tempo integral, sem gestores e professores qualificados, sem uma remuneração digna aos profissionais da Educação e sem o envolvimento efetivo da comunidade escolar, em especial dos pais.
O que temos hoje são os péssimos indicadores internacionais, a ineficiência, o uso do proselitismo religioso na educação e muita corrupção. Isso tudo, como consequência, acaba construindo um país sem o verdadeiro compromisso com a Educação e de culto à ignorância.
*O autor é sociólogo, advogado e pós-graduado em Ciência Política*