ROBÉRIO BRAGA – Os jornais da revolução

 

Robério Braga

O comum nos partidos políticos de antigamente era que cada um deles tivesse seu próprio jornal, ou fizesse com que um dos veículos de comunicação editados em Manaus assumisse as bandeiras defendidas pela agremiação. Dessa forma, é que se justifica a existência do “Jornal do Amazonas”, do “Estado do Amazonas”, da “Tribuna Popular” e muitos outros. O interessante e justo com o leitor é que nenhum deles escondia a facção partidária que defendia, o que servia para que se compreendesse de forma bem clara as posições assumidas pelos seus editoriais e pelo noticiário.

Do mesmo modo sucedeu com a revolução de 1924, o movimento dos tenentes que, na capital amazonense, produziu a deposição do governador César do Rego Monteiro com todos os seus asseclas, o qual, na verdade, vinha desabando lentamente desde a sua indicação como candidato ao cargo, portanto, muito antes da eleição forjada como foram todas as votações realizadas durante a Primeira República (1889-1930)

A revolta de 23 de julho de 1924 que realçou a liderança de Alfredo Augusto Ribeiro Júnior e o projetou na política amazonense fazendo-o vencedor de eleição para deputado federal, anos mais tarde, porém depois de uma derrota na eleição para a Constituinte de 1934, foi levante que teve a seu favor a edição de dois jornais revolucionários, um liderado pelo professor Júlio Benevides Uchoa, nascido no seringal Três Casas, de Humaitá, terra da economia da borracha e de líderes políticos e intelectuais de boa cepa.

Júlio era professor, político e jornalista, mas não encarnava a representação de nenhum partido, e fez o jornal por conta própria, com recursos de economias, denominando-o de “A Liberdade”, o qual circulava juntamente com o “Jornal do Povo”, este que era órgão do governo revolucionário, propriamente dito. “A Liberdade” circulou de agosto de 1924 a fevereiro de 1925, e foi em razão das posições assumidas por esse jornal que Júlio foi detido por ordens do Governo Federal, na fase de recomposição da governadoria local.

Na verdade, aquele foi período de informação sincera sobre o movimento libertário dos amazonenses, sem meias-palavras e com precisão de linguagem, posto que, “A Liberdade”, por seu diretor e proprietário, não permitia cochilos com o tratamento da língua portuguesa. Ele era burocrata e vernaculista, e noticiava tudo com clareza e sentido de verdade. Não escamoteava os fatos. Como estatístico, chegou a ser diretor do Departamento de Estatística do Amazonas, por longos anos, mas jamais perdeu o rigor com o idioma, nem a sinceridade e certa rudeza em afirmar seus pontos de vista.

Quando o pesquisador consegue fazer um exame detido dos dois jornais circulantes na fase áurea da revolução de Ribeiro Júnior é que pode compreender melhor o cenário da época, mesmo sabendo serem veículos postos na defesa dos atos militares, na descrição dos episódios políticos e, de certa forma, sem mostrar muito as entranhas do curto governo ribeiriano, pois preferiam ressaltar a “podridão” que teria sido encontrada nos porões do Palácio Rio Negro, a sede do poder político estadual desde 1917.

Não se pode compreender os fatos da época sem a comparação desses noticiários, e sem uma revista muito bem passada nos processos políticos e transformadores desde 1889, seja com as eleições arquitetadas conforme os interesses das oligarquias reinantes, seja com a manipulação das leis erigidas pelo legislativo estadual, inclusive, eleitorais, ou com os arranjos partidários voltados para o fortalecimento dos grupos que manipulavam ou constituíam o poder estatal.

Júlio Benevides Uchoa é desses homens públicos que merece todo o reconhecimento do povo amazonense, também porque viveu liberto dessas desgraças, notadamente neste centenário da Revolução de 1924.

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