ROBÉRIO BRAGA – Ensino privado em Manaus

 

Robério Braga

Faz tempo que o ensino prestado na capital amazonense tem sido mesclado por escolas criadas pelo poder público e outras por iniciativa de professores e de entidades como a Maçonaria e o Partido Trabalhista Amazonense (PTA), mas há poucos registros históricos, notadamente no que diz respeito ao período mais expressivo da economia da borracha (1890-1913).

Dando atenção à fase provincial (1852-1889), na qual o Amazonas foi governado por presidentes advindos de outras províncias sem conhecimento de nossa terra, resultando do apetite do Gabinete do Império e da condução do Imperador, é bem conhecido o livro de Júlio Benevides Uchoa sob o título “Flagrantes Educacionais do Amazonas de Ontem”, editado no governo do professor Arthur Cézar Ferreira Reis (1964-1967).

Por isso, trago a esse canto de página alguns apontamentos vinculados ao ensino privado na primeira década de 1900, em que funcionaram alguns estabelecimentos como o Instituto “João de Deus”, criado em março de 1908, sediado na Rua de São Vicente, n.º 13 e depois na Rua dos Remédios, n.º 27, com internato, externato e semi-internato e os cursos Primário, Secundário, Madureza, Comercial e Belas Artes, além da Escola de Infantaria e aulas noturnas.

Essa escola oferecia o Grêmio Cívico Literário “Martins Júnior”, exercícios de tiro, esgrima, jogos atléticos, ginástica escolar, caligrafia, escrituração mercantil, educação religiosa, latim, música vocal e instrumental, além de passeios campestres e outras programações extraclasse. Mantinha curso especial de Matemática, com o insigne professor João Luiz de Alencar, apresentado como ex-aluno da Escola Militar, genitor do brilhante professor Aristóteles Comte de Alencar e avô do atual presidente da Academia Amazonense de Letras, o médico Aristóteles Comte de Alencar Filho. Nas aulas de inglês e italiano, lecionavam os professores Levon Guiragos Rumann e Dom Raphael de Stefano Moscarelli. Em tudo, aplicava o método do pedagogo português João de Deus.

O instituidor e diretor foi o professor Gaston Rezende, figura bem acatada na Manaus de então e vice-presidente do Centro Pernambucano, que era presidido pelo desembargador Paulino de Mello, e que tinha a seu lado nessa iniciativa o professor Costa Moreira.

Havia, dentre outros, o Colégio Diocesano “São José”, sediado na Avenida de Silvério Nery, n.º 195, com internato, externato e semi-internato, dirigido pelos padres católicos, e o Externato “São Sebastião”, oferecendo os cursos inferior, médio e superior, além de inglês, alemão, italiano e tupi, essa que era a novidade dessa escola.

Em formação complementar, funcionou o Instituto “Berlitz”, fundada em 1907, na Rua de Silvério Nery, n.º 144, dedicado ao ensino prático de línguas, aplicando o método que lhe dava o nome (Berlitz), para as aulas de português, francês, inglês, italiano, espanhol e outras línguas, conforme o interesse e empenho do aluno, sob a liderança dos professores Mozart, G. Guidac e Paul Botreau-Boneterre. Essa escola oferecia turmas especiais para meninas e senhoras e funcionava nos turnos matutino e vespertino, sob a direção do professor Leon Guiragos Rumiann.

Sabe-se que esse método, criado por Maximilian Berlitz, foi o primeiro de ensino imersivo, aquele que rompeu a forma tradicional aplicada ao ensino de línguas estrangeiras e, ainda agora, é regular e moderno, baseado nos conceitos de imersão, objetivo orientado e apresentar, praticar e executar, com uso do idioma em situações reais.

Esses aspectos da educação da Primeira República (1889-1930), esperam a dedicação de pesquisadores, sob vários aspectos, seja métodos de ensino, disciplinas, aplicações práticas e motivacionais, como do interesse dos estudantes.

*O autor é advogado e membro da Academia Amazonense de Letras

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