ROBÉRIO BRAGA – Republicano raivoso

 

Robério Braga

Há muito tenho lido sobre a campanha em prol da República em nosso país e constatado que, segundo a História do Brasil, aquela que é considerada oficial e foi moldada nos padrões e conceitos defendidos pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, não foram muitos os defensores da república e do federalismo que atuaram com destemor em pleno império, ao modo de Silva Jardim, o qual chegou a “perseguir” o conde d´Eu em sua viagem de tentativa de propagação discreta do Terceiro Reinado, em 1889.

Em Manaus, e mais que isso, pela Região Norte, houve um desses destes destemidos, o raivoso Dr. Domingos Theophilo de Carvalho Leal, a respeito de quem pouco se fala e muito menos sobre o papel que ele desempenhou na propaganda e na implantação da República no Amazonas, na criação do Clube Republicano amazonense e composição da Junta de Governo de 1889. Por isso, resolvi ampliar o modesto estudo que estou fazendo sobre este período e procurei compor uma breve descrição de sua trajetória, visto desconhecer quem a tenha feito.

Curioso observar que nem quando o Dr. Deoclydes de Carvalho Leal foi vice-governador do Estado (1971-1975) houve, de parte do Estado, a iniciativa de prestar-lhe alguma homenagem mais significativa pelos relevantes serviços prestados ao Amazonas, durante muitos anos, seja no campo da educação pública como na política e no jornalismo.

Maranhense de nascimento, como muitos outros que se deslocaram para Manaus, nascido em 1854, estudou na Suíça, mais precisamente na Universidade de Zurique, atuou na imprensa e no magistério do Pará lecionando a língua alemã, de onde saiu incompatibilizado com os partidos e os líderes locais, e, chegando a Manaus em 1880, mesmo perseguido por hostes paraenses em razão de suas convicções republicanas, consolidou posições na capital amazonense.

Lecionou geografia e história no antigo Liceu e na Escola Normal (1882) e logo fez concurso público, passando a reger, também, as cadeiras de filosofia, francês, alemão e História Natural Especial do Brasil, aposentando-se em 1904.

Sua pena no jornalismo amazonense era dura. Escreveu para o “Commercio do Amazonas” e o “Jornal do Amazonas”, ainda na fase da Monarquia e no período republicano desdobrou-se para “O Americano”, “Estado do Amazonas”, “Amazonas”, “Quo Vadis?”, “A Epocha”, “A Federação”, “Imprensa”, “Folha do Amazonas”, “O Tempo”, “Correio do Norte”, “Correio da Manhã” e “Jornal do Povo”, este último que foi de sua propriedade e fundado próximo de sua morte, em 1916.

Compondo a Junta de Governo em 21 de novembro de 1889, logo que a cidade tomou conhecimento da Proclamação da República, uma semana antes, Carvalho Leal se porto de maneira intransigente com os demais membros da Junta, em várias situações e providências que desejavam tomar, visando especialmente a elaboração de um orçamento público expurgado dos excessos que vinham de muitos anos, e, notadamente, de destinação de favores e benesses pessoais e familiares.  Não foi compreendido por seus pares, mobilizou os republicanos autênticos, estimulou passeatas e outras manifestações contra a Junta, creio que em surdina, e rompeu com o governo provisório, demonstrando, mais uma vez, o seu estilo de não negociar contra o interesse da população e o ideal republicano que defendia há muitos anos.

Pelo menos dois de seus filhos seguiram o caminho da política e, embora algumas vitórias, não alcançaram o apogeu do pai: Alexandre e Deoclydes. O primeiro, prefeito de Manaus e deputado federal; o segundo, deputado federal e vice-governador do Estado. Habilidosos nesses meandros e menos raivosos.

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