ROBÉRIO BRAGA – Datas esquecidas

 

Robério Braga

Nos governos de João Walter de Andrade (1971-75) e José Lindoso (1975-79) foram realizadas várias solenidades e atividades escolares comemorativas de data especiais da História do Amazonas as quais, com o passar dos anos, deixaram de ocupar o calendário das escolas públicas, nas quais seria indispensável serem festejadas, até para que fosse mais estimulante falar do passado de nossa terra para uma geração grudada nas redes sociais e obcecada pelo imediatismo e submetida à velocidade do tempo.

Digo isso porque participei de ambos os governos. No primeiro, iniciei minha carreira de servidor público que se concluiu após 49 anos e poucos meses, não faz muito. No segundo, atuei como secretário de Estado do Gabinete do vice-governador e secretário de diversos conselhos estaduais, inclusive e especialmente o de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico, marcando a presença do poder público neste importante campo de interesse social, no momento em que não se falava disso na Administração estadual.

Duas destas datas completamente olvidadas nos últimos anos, nos campos educacional, político e social tem sido a de Adesão do Amazonas à Independência do Brasil, em 9 de novembro de 1823, precisamente a um ano, dois meses e dois dias da dita conclamação de D. Pedro I, como a história oficial reconhece. A outra, a de Adesão à República, em 21 de novembro de 1889, uma semana após a propalada Proclamação que teria sido feita no Campo da Aclimação, no Rio de Janeiro, e da reunião na Câmara Municipal do Rio na qual alguns vereadores-republicanos hastearam bandeira, fizeram discursos e anunciaram o que o marechal Deodoro da Fonseca teria tido receio de fazê-lo, ou nem estava empenhado em tal desdobramento como consequência da deposição daquele Gabinete do Império.

Igual pecado está sendo cometido em relação ao 19 de novembro, consagrado à Bandeira Nacional. É raro saber-se que a Bandeira esteja sendo hasteada com pompa e solenidade, como deve ser, em alguma escola pública ou em praças da cidade, ao menos nessa data. Como é possível imaginarmos que teremos brasileiros cônscios de seu papel de cidadãos, defensores da democracia verdadeira, atentos aos interesses do país e de sua comunidade, vibrantes de brasilidade, sem estimularmos o culto a esses valores cívicos?  Sou do tempo em que cantávamos o Hino Nacional na manhã de quinta-feira, devotávamos respeito e reconhecíamos os símbolos da Pátria e aprendíamos sobre eles, cumprimentávamos os mais velhos com consideração, valorizávamos a língua portuguesa que herdamos e procurávamos saber das outras línguas nacionais que enriquecem a nossa cultura… e tantas e tantas coisas desse gênero que foram sendo abandonadas ou até abominadas.

Da minha parte tenho resistido, fazendo desse canto de página um posto avançado na reconstituição de passagens da história amazonense, da vida e da obra de vultos de antanho, abrindo caminhos ou pequenas vielas que possam ser trilhadas por quem desejar aprofundar-se e melhor conhecê-los. De toda a sorte, não devem buscar heróis, semideuses, monstros sagrados ou eruditos a não mais caber, nem os transformar em santos do pau oco, pois todos foram homens e mulheres imbuídos de bons e nem tão bons hábitos e propósitos, mas, em verdade, em sua maioria prestaram serviços à sociedade amazonense e edificaram a trajetória de valor quando de suas passagens por estas terras.

Reconhecer os episódios componentes de nossa História e se ver no tempo em que eles se deram, com os cenários de então e diante das circunstâncias que os cercaram, perquirir a verdade dos fatos o mais próximo que se possa, ou  descrição mais fiel dos acontecimentos, é um desafio cada vez maior a quantos procuram esse caminho para suas produções literária, jornalísticas ou científicas e acadêmicas.

Enquanto me for possível, manterei minha atalaia, com minhas virtudes e defeitos.

*O autor é advogado e membro da Academia Amazonense de Letras*

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