ROBÉRIO BRAGA – O Natal e a menina de cachos
Havia uma menina de cachos e laços, morena-bela, encanto do lar de seus pais e irmãos, que desde cedo demonstrou pendores para as artes e as letras. Alegre, feliz, sorridente, cantarolava as modinhas da época e pouco depois foi se exercitando ao piano, bandolim, acordeon e teatro, com habilidades que surpreendiam aos que a conheciam, fosse no Grupo Escolar, na roda de amigas e familiares, nas apresentações artísticas que se seguiram desde a juventude mais tenra.
Seus pais, irmãos, professores e colegas ficavam deslumbrados, porque além de estudiosa e esmerada, sem perder por nada a alegria, a menina aceitava o desafio dos jogos de futebol com bola de meia no quintal da casa humilde, do mesmo modo que enfrentou o vôlei nas quadras oficiais ao tempo em que declamava, cantava e discursava.
Esta menina se tornou professora exemplar, preparou gerações, enamorou-se, encontrou a sua outra metade bem-amada, teve filhos e é mãe-apaixonada. Correu a vida sem perder a graça e a alegria e chegou aos oitent´anos com o espírito leve, após enfrentar as borrascas que lhe cabiam passar nesse plano de depuração. De repente, tomando da pena passou a escrever sem cessar, textos profundos que nos levam a muito refletir. Encantado, também por isso, peço a ela permissão e faço publicar a seguir, a mensagem de Natal que ela me enviou, para que todos sintam a emoção que senti ao recolher sua carta grafada com letras bem-desenhadas como é do seu feitio, sem fugir da dura realidade da vida.
Diz a carta: “É estranho ver o Natal chegando e perceber que aquela sensação de magia e alegria de antigamente não é mais a mesma. A vida muda. As pessoas seguem caminhos diferentes e alguns lugares à mesa, ficam vazios. O coração aperta ao lembrar de abraços que antes eram tão certos quando o relógio marcava meia-noite”.
“A ausência pesa e a saudade insiste em fazer morada, mas, mesmo com a família incompleta, o verdadeiro espírito no Natal continua vivo em nós. Ele não depende apenas da presença física, mas do amor que permanece, das memórias que nos aquecem e da gratidão por tudo que vivemos ao lado de quem amamos”.
“É o momento de refletir, de honrar quem não está mais aqui, de valorizar os que ainda estão ao nosso lado. Que possamos encontrar mesmo na saudade razões para celebrar”.
“Que a esperança renasça no coração de cada um, lembrando-nos de que o Natal é Amor, e que este Amor nos fortaleça para seguir em frente, mantendo viva a essência de tudo que nos une mesmo quando a vida parece incompleta”.
“O importante é que a cada Natal Jesus chega!”.
São estas as lições da menina morena-bela, após se tornar bisavó com a mesma alegria e leveza de ser, sem se submeter às tristezas e dores que a vida lhe reservou. São estas as palavras abençoadas de Maria Justina Braga Monteiro, minha muito amada irmã.
São estes os desejos de Natal da menina de cachos que a todos encantou e encanta vida em fora!