ROBÉRIO BRAGA – A moda das damas
Não sou muito afeito a modismos, nem a acompanhar a evolução dos modelos, trajes ou acessórios femininos, embora seja bastante observador, desde menino pequeno, quando fui acostumado a brincar o jogo do Kim, bastante usado no Movimento Escoteiro, mas fiquei curioso em ler que, ao inaugurar do ano de 1925, portanto, há cem anos, o conjunto de acessórios e complementos de indumentária social das mulheres elegantes de Manaus sofreu grande transformação.
Para conferir essa mudança, basta ler a edição do “Jornal do Commercio”, na inauguração daquele ano, na qual, em primeira página, o editor fez questão de destacar e descrever em detalhes como seria o traje mais elegante a ser observado pelas senhoras e senhoritas manauenses, para que estivessem em dia com a elegância europeia e carioca, esta que começava a influir no modo de vestir das mulheres Brasil afora.
Ressaltando que uma senhora elegante poderia até passar sem um guarda-chuva, sem joias e sem luvas – o que já seria coisa de chamar a atenção -, mas jamais poderia passar sem uma bolsa ou uma carteira, ressaltando a “faceirice das carteiras modernas, quanta personalidade revelam, quanta tentação sugerem…”.
Bolsa ou carteira de pele de cobra, com um enorme ou minúsculo monograma que representaria um sinete de personalidade no chiquismo “dernier-cri” destas carteiras. Além da pele, elas poderiam ser feitas em couro da Rússia, pelicas, camurças, lamês, veludos, brocados, entrecruzamentos de fitas, bordados, miçangas, fio de ouro ou prata, cristal… e, assim, sucessivamente, sempre com elementos que valorizassem a sua presença pelas ruas em desfile para compras, em festas e solenidades ou nas noitadas em teatro ou cinema.
Os fechos das bolsas e das carteiras poderiam ser de esmalte, cristal, prata velha, de madrepérola, marfim, ou, se mais sofisticados, em ouro e platina, mas sempre como verdadeiras obras de arte de ourives e artesãos de alta qualidade e experiência em moda feminina.
A maior novidade, entretanto, feita para usar quando estivesse dançando, era a pequena sacola de madeira envernizada e preparada como se fosse um pequeno barril ou um ovo de Páscoa, uma espécie de “nécessaire”, também chamadas de polvereiras, com borla de franja que servia para esconder o “batom de rouge” ou “crayon” para os olhos, eram mais parecidas com pequenos toneis que representavam novidade ao conjunto de acessórios da moda que se anunciava para o novo ano.
Esses requintes que adornavam as mulheres mais abastadas ou sociáveis, como se dizia, por certo não passavam, nem de longe, na cogitação da indumentária mais chic das pessoas mais simples que moravam nos bairros distantes do grande centro do sucesso e do poder, e talvez nem fossem consumidas pelas damas de classe média que representavam uma boa parte da população amazonense, assalariada, quando bem posicionada, composta de funcionários públicos que haviam acabado de ultrapassar os anos de chumbo e dívidas impostos pelo regime oligárquico do governo Rego Monteiro encerrando em julho de 1924 e que a todos ficou devendo, salvo aos pouco apaniguados para os quais as portas dos cofres públicos estiveram escancaradas para escarnecerem quem tivesse verbas a receber do Tesouro.
Mesmo assim, a nova moda foi lançada e apresentada no primeiro dia do ano.
*O autor é advogado e membro da Academia Amazonense de Letras