ROBÉRIO BRAGA – Movimento “Clube da Madrugada”

 

Robério Braga

Peço licença aos poetas e contistas para adentrar nesta seara, mesmo que seja somente para relembrar os primórdios da animação cultural de grande influência nas letras, nas artes e no modo de uma geração inteira se posicionar diante da sociedade, provocada por uma juventude audaciosa e bem formada que constituiu o que chamaram de Movimento “Clube da Madrugada”.

Os que primeiro pensaram em promover e estimular a ruptura com o passado e a letargia em que a maioria dos escritores e criadores de arte se encontravam, muito deles embotados, e na qual a própria cidade estava mergulhada, foram verdadeiramente audaciosos, marca com a qual timbraram muitas de suas obras com vigor e estimularam os que lhes sucederam, pelo menos nos dois primeiros decênios em que atuaram incisivamente nos campos de suas preferências literárias e artísticas.

Todos os que iniciaram essa caminhada, que agora completa 70 anos, alcançaram culminâncias de valor, e até mesmo aquele que foi retirado precocemente do nosso convívio, legou fortuna de inspiração e exemplar convicção transformadora.

Saul Isaac Benchimol, José Jefferson Carpinteiro Péres, Francisco Ferreira Batista, João Bosco Pantoja Evangelista, Luiz Franco de Sá Bacellar e João Bosco Bezerra de Araújo romperam o marasmo e reunidos no sombreado noturno ou de quase noite da Praça de Heliodoro Balbi, atraíram outras figuras singulares daqueles anos como Humberto Paiva, Camilo Souza, José Pereira Trindade, Farias Ouro de Carvalho, Antônio Gurgel e Fernando Collyer, logo seguidos de Padre Luiz Ruas, Jorge Tufic, Francisco Vasconcellos, Anthistenes de Oliveira Pinto, Erasmo do Amaral Linhares, Adrino Aragão, Elson José Bentes Farias, Max Carpenthier Luís da Costa, Moacir Couto de Andrade, Afrânio de Castro, Álvaro Reis Páscoa, Óscar Ramos, Sebastião Norões, Aluísio Sampaio, Carlos Gomes, Ernesto Pinho Filho, Jorge Pinheiro Pucu, Anísio Mello, Van Pereira, Getúlio Alho, Alcides  Werk, Ernesto da Silva Penafort e José Maciel, até que, em meio a eles, surgiu redentora a poeta Astrid Cabral… e, a cada momento, outros poetas, contistas, romancistas, ensaístas, artistas plásticos, jornalistas e oradores iam se aproximando e conspirando contra a mesmice que entendiam dominar a produção literária e a vida cultural de Manaus dos anos 1950 e de pouco depois deles.

Setenta anos são passados e as marcas desse tempo permanecem vivas nas muitas obras que quase todos eles produziram, na revisão das históricas reuniões informais e eruditas sem embotamento que realizaram, nas rodadas de café no ponto do Pina, mas, sobretudo, nas linguagens renovadoras de que se utilizaram, nas páginas de jornal em que publicaram suas criações, na memória dos encontros e desencontros tão comuns em movimentos dessa ordem.

Depois, a boêmia. A boêmia nem sempre sadia que dominou e massacrou alguns, adoçou os cânticos de outros e marcou muitos dos textos encantadores que nos legaram. Acima dela, a beleza! Sempre a beleza do verso, a quebra da rima, a inovação na métrica, a medida certa do azul ou a força da palavra dispersa que não se perdeu no vazio. A beleza que deu frutos.

Honras aos clubistas madrugadores de primeira hora. Honras aos clubistas de todas as horas pelo Movimento renovador que nos legaram.

*O autor é advogado e membro da Academia Amazonense de Letras*

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